“O Dr. Victor vai chegar, o Dr. Victor está chegando, o Dr. Victor chegooou!”.
<span class="abre-texto">"Raios e trovões!"</span>. Expressão saudosa, essa! Virou bordão a quem igualmente fez morada no fabuloso Castelo da tevê Cultura, nos idos da década de 90. Lá havia um Nino menino que, em seus 300 anos, nunca crescia e de quem vertia tanto a traquinagem e alegria dos ingênuos como, em contrapeso, certa habilidade ao equilíbrio e discernimento. Aprendiz de feitiçarias, seus pais nunca estavam presentes por viverem pelo espaço – como muitos – sem tempo ao interdito ou a acolhidas. Biba, Zeca e Pedro felizmente juntavam-se a ele, tirando-o da solidão às brincadeiras.
Nas torres empoeiradas, a destemperada bruxa Morgana articulava a voz em impropérios e ameaças, reinando plena no Rá-Tim-Bum; emparelhava, nas artimanhas da magia, ao "Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo", cantarolado muito antes pela atrapalhada fada de Cinderela. Sob doces melodias, encantos e bruxedos, a infância dos grandes e dos pequenos seguia fortalecida e espontânea, num tempo outrora de muitas risadas, travessuras e diversão.
Pasmei certa manhã, contudo, numa pesquisa sobre o conceito e origem da frase Rá-Tim-Bum; conforme algumas lendas, é uma expressão considerada mágica, todavia significando "eu amaldiçoo você!". Isso mesmo. Raios e Trovões!
Desci então à terra do Sempre, onde um tropeço não é necessariamente algo engraçado. A infância hoje mudou de lado: eu, no manejo analítico de crianças em zonas de conflito; e, eles, meninas e meninos (ora potencializando Biba, Zeca e Pedro juntos e misturados num só elemento, ora pesadamente solitários em seu sofrimento) adentrando o consultório pelas mãos de parentais ávidos por respostas. De pronto, apenas a certeza de serem eles, os infantes, intensos e verdadeiros – porquanto criança não mente sobre o que sente, ainda que invente.
Assistimos, na ordem do contemporâneo, a formas bem distintas de engrenagem familiar; na maior parte delas, e independente do perfil, verificam-se ações adultas descompromissadas com o desenvolvimento do brincar junto aos pequenos, o que influencia inequivocamente na imediata e futura qualidade do psiquismo deles – fora o prejuízo emocional que não se mede.
A saúde mental se alicerça nos primeiros passos de cada um pelo tapete mágico da vida. Desde a risada do bebê, dentro do berço, ao ver caretas que se revezam divertidas vindas de familiares babões, todos em tentativas de se comunicarem com quem nem fala... passando por voos malucos e aterrissagens das colherinhas em direção a bocas babadas... pela magia da língua em bagunça (lalangue), trançada, sem estrutura... ao ‘um, dois, três, já!’ cantado em voz alta, visando estimular ações e assim suscitando ensaios de processos neuronais para isso ou aquilo... na companhia nos caminhos pelos jogos de montar e colorir... frente à bola para tocar, bater, chutar e às pipas que, ao dançarem, estouram bolhas de sabão sopradas ao vento... marcando presença na caça a figurinhas desejadas, colecionáveis, roubadas do monte, trocadas em rodas festivas... junto na decoreba da tabuada, engatando terceira à resposta exata... troçando no carteados, passa-anel, pula-pula e cabra-cega... ao lado, nos filmes e desenhos em família, passeios, cantorias e em festas diversas, natalinas, pascais, juninas, de aniversários... tudo isso e mais um tanto, plantando conteúdos inalienáveis sob a forma de aprendizado no coletivo – conhecimento nascido no colo e braços da parentela para, após, ampliar-se no contato com novos lares e sistemas.
Sob a ótica freudiana, brincar é método de trabalho pelo qual cada criança irá se desenvolver socialmente: aprendendo a elaborar questões psíquicas (emocionais à princípio); simbolizando pequenas conquistas e/ou angústias ante desafios, frustrações e ausências; alavancando aprendizagem e competência criativa. Brincar que se inicia na infância a partir das relações objetais concretas, ou seja, no intercâmbio presencial com pessoas e/ou brinquedos físicos, os quais, aliás, podem ser quaisquer coisas. Trabalho sério, que vemos carecer de atenção e incentivo.
Sem a pretensão de citar algo que não pareça óbvio, torna-se vital um novo crivo familiar a ressuscitar vínculos, seja na remodelação dos horários e compromissos (dando oportunidade ao convívio), seja na ressignificação global do estar junto (à melhoria da saúde emocional quando do compartilhamento qualitativo da afetividade).
Porque hoje sobram brincadeiras faltantes! Magias substituídas pela tecnologia. Crianças sem infância e em continuado reset e estresse, logadas para atividades fora da intimidade de suas casas, sem poderem sequer reclamar das ausências afetivas, pois decerto irão ouvir:
Você de novo? Fica quieto, você não sossega! Não vê que não tenho tempo, que estou ocupado? Está todo mundo se distraindo, se vira aí! Pega logo o celular e vai brincar!
Telas espelhadas e eletrizantes na mão de bebês, guris e da juventude sem riso e sem chances de tempo ao tempo raso dos parentais, a um contato de valor. Mais tarde, serão levados a consultórios em busca de direcionamento, reparos, aconchegos, trazidos por adultos não mais tão distanciados, porém ainda aflitos e correndo contra o tempo que não ofereceram.
Sem mais Dr. Victor, personagem a surgir no final das enrascadas com sua maleta de couro repleta de respostas e feitiços, prossigo no olhar clínico mantendo e alimentando, lá dentro dos meus castelos – tempo bom revisitado na meninice dos meus amores, jovens hoje – a importância do envolvimento amoroso com o humano, suas fantasias e desassossegos. Muito embora, no fundo do pensamento, contendo a vontade de falar:
Olhem aqui, senhores parentais, pra baixo e para o lado, há braços pedindo aconchego... e pra este celular que você entrega sem pensar, apenas pra não ter de se apresentar ao trabalho de educar... a esse portal do Malfeito Feito, meu Rá-Tim-Bum!
Porque o desejo é fazer ressurgir um tempo de mais frequências e amizades, em que a importância das brincadeiras não-solitárias possa de fato voltar, reencantando o Nino no velho que carregamos... recuperando uma melhor parlenda aos elos do íntimo... juntando pais e filhos num ambiente de mais atenção, carinho, trocas e combinados.
Que, sem tanta demora e para além da memória do Dr. Victor, outras formas de presenças se construam no agora, possibilitando identificações parentais saudáveis e fortalecendo a noção de pertencimento de crianças e jovens a lugares prazerosamente seus (moradas de dentro e de fora).
Seguramente hão de existir mal-entendidos e contratempos no circuito da realidade. E, com certeza, limites e restrições continuarão a fundamentar nossa adequação ao convívio social. Só não podemos mais replicar aos protagonistas da infância essa relação distanciada, sem compromisso ou responsabilidade afetiva; nem argumentar sobre a falta de horários numa fala vazia para nos justificar. Isso me leva àquele triste trava língua:
O tempo perguntou pro tempo: qual é o tempo que o tempo tem? O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.
O qual, em seu mais incômodo sentido, retrata a maioria das relações parentais no tempo presente, mais especificamente no contexto desse vedar, à infância, o que de melhor tais relações poderiam oferecer: o tempo do brincar ao efetivo brincar.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
“O Dr. Victor vai chegar, o Dr. Victor está chegando, o Dr. Victor chegooou!”.
<span class="abre-texto">"Raios e trovões!"</span>. Expressão saudosa, essa! Virou bordão a quem igualmente fez morada no fabuloso Castelo da tevê Cultura, nos idos da década de 90. Lá havia um Nino menino que, em seus 300 anos, nunca crescia e de quem vertia tanto a traquinagem e alegria dos ingênuos como, em contrapeso, certa habilidade ao equilíbrio e discernimento. Aprendiz de feitiçarias, seus pais nunca estavam presentes por viverem pelo espaço – como muitos – sem tempo ao interdito ou a acolhidas. Biba, Zeca e Pedro felizmente juntavam-se a ele, tirando-o da solidão às brincadeiras.
Nas torres empoeiradas, a destemperada bruxa Morgana articulava a voz em impropérios e ameaças, reinando plena no Rá-Tim-Bum; emparelhava, nas artimanhas da magia, ao "Salagadula Mexegabula Bibidi-Bobidi-Boo", cantarolado muito antes pela atrapalhada fada de Cinderela. Sob doces melodias, encantos e bruxedos, a infância dos grandes e dos pequenos seguia fortalecida e espontânea, num tempo outrora de muitas risadas, travessuras e diversão.
Pasmei certa manhã, contudo, numa pesquisa sobre o conceito e origem da frase Rá-Tim-Bum; conforme algumas lendas, é uma expressão considerada mágica, todavia significando "eu amaldiçoo você!". Isso mesmo. Raios e Trovões!
Desci então à terra do Sempre, onde um tropeço não é necessariamente algo engraçado. A infância hoje mudou de lado: eu, no manejo analítico de crianças em zonas de conflito; e, eles, meninas e meninos (ora potencializando Biba, Zeca e Pedro juntos e misturados num só elemento, ora pesadamente solitários em seu sofrimento) adentrando o consultório pelas mãos de parentais ávidos por respostas. De pronto, apenas a certeza de serem eles, os infantes, intensos e verdadeiros – porquanto criança não mente sobre o que sente, ainda que invente.
Assistimos, na ordem do contemporâneo, a formas bem distintas de engrenagem familiar; na maior parte delas, e independente do perfil, verificam-se ações adultas descompromissadas com o desenvolvimento do brincar junto aos pequenos, o que influencia inequivocamente na imediata e futura qualidade do psiquismo deles – fora o prejuízo emocional que não se mede.
A saúde mental se alicerça nos primeiros passos de cada um pelo tapete mágico da vida. Desde a risada do bebê, dentro do berço, ao ver caretas que se revezam divertidas vindas de familiares babões, todos em tentativas de se comunicarem com quem nem fala... passando por voos malucos e aterrissagens das colherinhas em direção a bocas babadas... pela magia da língua em bagunça (lalangue), trançada, sem estrutura... ao ‘um, dois, três, já!’ cantado em voz alta, visando estimular ações e assim suscitando ensaios de processos neuronais para isso ou aquilo... na companhia nos caminhos pelos jogos de montar e colorir... frente à bola para tocar, bater, chutar e às pipas que, ao dançarem, estouram bolhas de sabão sopradas ao vento... marcando presença na caça a figurinhas desejadas, colecionáveis, roubadas do monte, trocadas em rodas festivas... junto na decoreba da tabuada, engatando terceira à resposta exata... troçando no carteados, passa-anel, pula-pula e cabra-cega... ao lado, nos filmes e desenhos em família, passeios, cantorias e em festas diversas, natalinas, pascais, juninas, de aniversários... tudo isso e mais um tanto, plantando conteúdos inalienáveis sob a forma de aprendizado no coletivo – conhecimento nascido no colo e braços da parentela para, após, ampliar-se no contato com novos lares e sistemas.
Sob a ótica freudiana, brincar é método de trabalho pelo qual cada criança irá se desenvolver socialmente: aprendendo a elaborar questões psíquicas (emocionais à princípio); simbolizando pequenas conquistas e/ou angústias ante desafios, frustrações e ausências; alavancando aprendizagem e competência criativa. Brincar que se inicia na infância a partir das relações objetais concretas, ou seja, no intercâmbio presencial com pessoas e/ou brinquedos físicos, os quais, aliás, podem ser quaisquer coisas. Trabalho sério, que vemos carecer de atenção e incentivo.
Sem a pretensão de citar algo que não pareça óbvio, torna-se vital um novo crivo familiar a ressuscitar vínculos, seja na remodelação dos horários e compromissos (dando oportunidade ao convívio), seja na ressignificação global do estar junto (à melhoria da saúde emocional quando do compartilhamento qualitativo da afetividade).
Porque hoje sobram brincadeiras faltantes! Magias substituídas pela tecnologia. Crianças sem infância e em continuado reset e estresse, logadas para atividades fora da intimidade de suas casas, sem poderem sequer reclamar das ausências afetivas, pois decerto irão ouvir:
Você de novo? Fica quieto, você não sossega! Não vê que não tenho tempo, que estou ocupado? Está todo mundo se distraindo, se vira aí! Pega logo o celular e vai brincar!
Telas espelhadas e eletrizantes na mão de bebês, guris e da juventude sem riso e sem chances de tempo ao tempo raso dos parentais, a um contato de valor. Mais tarde, serão levados a consultórios em busca de direcionamento, reparos, aconchegos, trazidos por adultos não mais tão distanciados, porém ainda aflitos e correndo contra o tempo que não ofereceram.
Sem mais Dr. Victor, personagem a surgir no final das enrascadas com sua maleta de couro repleta de respostas e feitiços, prossigo no olhar clínico mantendo e alimentando, lá dentro dos meus castelos – tempo bom revisitado na meninice dos meus amores, jovens hoje – a importância do envolvimento amoroso com o humano, suas fantasias e desassossegos. Muito embora, no fundo do pensamento, contendo a vontade de falar:
Olhem aqui, senhores parentais, pra baixo e para o lado, há braços pedindo aconchego... e pra este celular que você entrega sem pensar, apenas pra não ter de se apresentar ao trabalho de educar... a esse portal do Malfeito Feito, meu Rá-Tim-Bum!
Porque o desejo é fazer ressurgir um tempo de mais frequências e amizades, em que a importância das brincadeiras não-solitárias possa de fato voltar, reencantando o Nino no velho que carregamos... recuperando uma melhor parlenda aos elos do íntimo... juntando pais e filhos num ambiente de mais atenção, carinho, trocas e combinados.
Que, sem tanta demora e para além da memória do Dr. Victor, outras formas de presenças se construam no agora, possibilitando identificações parentais saudáveis e fortalecendo a noção de pertencimento de crianças e jovens a lugares prazerosamente seus (moradas de dentro e de fora).
Seguramente hão de existir mal-entendidos e contratempos no circuito da realidade. E, com certeza, limites e restrições continuarão a fundamentar nossa adequação ao convívio social. Só não podemos mais replicar aos protagonistas da infância essa relação distanciada, sem compromisso ou responsabilidade afetiva; nem argumentar sobre a falta de horários numa fala vazia para nos justificar. Isso me leva àquele triste trava língua:
O tempo perguntou pro tempo: qual é o tempo que o tempo tem? O tempo respondeu pro tempo que não tem tempo pra dizer pro tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.
O qual, em seu mais incômodo sentido, retrata a maioria das relações parentais no tempo presente, mais especificamente no contexto desse vedar, à infância, o que de melhor tais relações poderiam oferecer: o tempo do brincar ao efetivo brincar.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.