<span class="abre-texto">Aproveitando a recente comemoração do Dia dos Pais,</span> gostaria de propor uma reflexão sobre o importante papel que essa função exerce na constituição de cada um de nós.
Freud dizia que o superego do sujeito, ou seja, nosso juiz interior, é, inicialmente, constituído a partir do modelo proposto pelos pais (cópia do superego deles) e internalizado como uma lei que cobra esses padrões idealizados pela criança, vistos como bons e fornecedores de segurança, ainda que cerceadores do desejo.
Uma fala do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, mostrada em um dos programas do Café Filosófico da TV Cultura recentemente, cabe muito bem aqui: o dilema do ser humano segue em duas vertentes relativamente antagônicas e não excludentes – ele carece de segurança e de liberdade, dois atributos que, pela própria natureza, geram tensão – quanto mais liberdade se busca, menos segurança se tem, e o contrário também é verdadeiro. Uma equação a ser tomada por cada indivíduo, motivo de angústia permanente e de negociação interna constante.
Mas o que isso teria em comum com o papel do superego e, em especial, o papel do pai?
Sabemos que a mãe é percebida pela criança, especialmente a pequena, como a grande supridora de segurança: entenda-se mãe como a função materna, que poderá ser exercida por mulher, genitora ou não, ou homem – chamarei de mãe, para simplificar. Aquela que cuida, zela, protege, acarinha, transmite amor, acolhimento, tornando o ambiente menos inóspito a esse ser em desenvolvimento. Não que seja assim sempre: às vezes ela está mais impaciente, não tão amorosa, acorda de mau humor, mas boa parte do tempo representa esse papel fundamental na constituição do indivíduo. Para a criança, ela é um porto seguro, representante simbólico do que se entende como usina de segurança: ou assim deveria ser tomada, mesmo com as oscilações naturais.
Neste início de vida, ainda não existe o superego internalizado. Aliás, nem o próprio ego, que precisa dessa mediação da mãe, suficientemente boa, para se consolidar.
E o pai, nessa fase de formação do sujeito, enquanto o superego não se estabelece, que função ele representa? E novamente, entenda-se como pai aquele que estabelece limites, apoia a mãe, ajuda a educar, restringe um pouco os possíveis excessos, independentemente se é o pai biológico ou se quem exerce esse papel é outra pessoa.
Mães solo, por vezes, precisam elas mesmas representar as duas funções, o que é algo muito trabalhoso, diga-se de passagem. Mas vamos simplificar e supor que a criança tenha duas figuras importantes em sua vida, olhando por ela, cada qual representando o seu papel, em boa parte do tempo.
É, portanto, o pai, enquanto função, quem assume o papel de mostrar o mundo ao filho, retirando-o do conforto do ninho para apresentá-lo à cultura – cabe a ele estimular a liberdade, com toda a angústia que ela possa vir a carregar.
E quão importante é esse seu papel, para que se evitem filhos dependentes eternos, presos na barra da saia ou... da calça, sem ideais ou propósitos próprios.
Parece que essa função de pai, apesar dos exageros, estava mais clara nas gerações passadas, ainda que, por vezes, resvalando para a severidade ou mesmo crueldade.
O que se observa, nos dias de hoje, ao menos nas classes mais privilegiadas, são filhos com ambos os cuidadores cravados na função materna: tantos cuidados e receios que a criança cresce sufocada, pendendo para a segurança, sem vislumbrar oportunidades que a direcionem à conquista de uma independência relativa.
Nessa tirania de serem ambos boas mães, há a tentativa de impor à sociedade esse mesmo modo de funcionamento, sem regras ou compromissos, na exigência de que as escolas ou demais instituições tratem seus filhos como eles os tratam, atendendo a todos os desejos deles, na expectativa de que terão o futuro tão idealizado por tais pais: serão felizes para sempre, esquecendo-se de que “o para sempre, sempre acaba!”
Que peso para essas instituições lidarem com crianças sem limites e propósitos, que desanimam fácil frente às dificuldades do dia a dia, ou, com esses jovens da geração “Z”, que não se subordinam a nada ou ninguém, tornando-se um desafio para a área de RH das empresas.
Consequências dessa aposta em uma criação artificial, voltada à ilusão de um mundo mágico – formado exclusivamente por seres incrivelmente fantásticos, cuja única obrigação é a de serem felizes –, podem ser observadas no despreparo emocional dessas crianças e jovens em lidar com as contingências que fazem parte da vida de qualquer ser humano, motivo de verdadeiro fracasso, quando não de naufrágio literal, por falta de musculatura para suportar e se reinventar perante as adversidades.
Não se trata aqui de apregoar um saudosismo barato pela volta dos pais inacessíveis ou tiranos do passado: ali também era possível observar muitas inadequações, em decorrência de uma imposição à cultura, sem levar em conta a capacidade do sujeito de se submeter a ela, de forma não opressiva.
Mas repensar esses papéis e achar um caminho do meio, penso que este seja o grande desafio do momento: pais fazendo sua função de mostrar uma trilha, a possibilidade de um trajeto individual de liberdade a seus filhos, criando o contraponto com a segurança promovida pelas mães, esse porto seguro para onde eles sempre poderão voltar.
Que esses filhos com boa autoestima, consequência direta de se sentirem estimados por pais suficientemente bons – de um lado, emocionalmente seguros, graças ao apoio fornecido por uma boa mãe, e de outro, audazes e independentes, graças ao papel exercido por um bom pai – possam, no tempo de desabrochar, autorizar-se a içar velas e seguir adiante em busca de seus sonhos, ainda que a justa relação entre liberdade e segurança, conquista de cada um, careça de constante manejo da parte de quem faz, efetivamente, a caminhada.
Parabéns a esses pais incríveis, que souberam interpretar e exercer seu papel ímpar e que possam inspirar outros pais.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
<span class="abre-texto">Aproveitando a recente comemoração do Dia dos Pais,</span> gostaria de propor uma reflexão sobre o importante papel que essa função exerce na constituição de cada um de nós.
Freud dizia que o superego do sujeito, ou seja, nosso juiz interior, é, inicialmente, constituído a partir do modelo proposto pelos pais (cópia do superego deles) e internalizado como uma lei que cobra esses padrões idealizados pela criança, vistos como bons e fornecedores de segurança, ainda que cerceadores do desejo.
Uma fala do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, mostrada em um dos programas do Café Filosófico da TV Cultura recentemente, cabe muito bem aqui: o dilema do ser humano segue em duas vertentes relativamente antagônicas e não excludentes – ele carece de segurança e de liberdade, dois atributos que, pela própria natureza, geram tensão – quanto mais liberdade se busca, menos segurança se tem, e o contrário também é verdadeiro. Uma equação a ser tomada por cada indivíduo, motivo de angústia permanente e de negociação interna constante.
Mas o que isso teria em comum com o papel do superego e, em especial, o papel do pai?
Sabemos que a mãe é percebida pela criança, especialmente a pequena, como a grande supridora de segurança: entenda-se mãe como a função materna, que poderá ser exercida por mulher, genitora ou não, ou homem – chamarei de mãe, para simplificar. Aquela que cuida, zela, protege, acarinha, transmite amor, acolhimento, tornando o ambiente menos inóspito a esse ser em desenvolvimento. Não que seja assim sempre: às vezes ela está mais impaciente, não tão amorosa, acorda de mau humor, mas boa parte do tempo representa esse papel fundamental na constituição do indivíduo. Para a criança, ela é um porto seguro, representante simbólico do que se entende como usina de segurança: ou assim deveria ser tomada, mesmo com as oscilações naturais.
Neste início de vida, ainda não existe o superego internalizado. Aliás, nem o próprio ego, que precisa dessa mediação da mãe, suficientemente boa, para se consolidar.
E o pai, nessa fase de formação do sujeito, enquanto o superego não se estabelece, que função ele representa? E novamente, entenda-se como pai aquele que estabelece limites, apoia a mãe, ajuda a educar, restringe um pouco os possíveis excessos, independentemente se é o pai biológico ou se quem exerce esse papel é outra pessoa.
Mães solo, por vezes, precisam elas mesmas representar as duas funções, o que é algo muito trabalhoso, diga-se de passagem. Mas vamos simplificar e supor que a criança tenha duas figuras importantes em sua vida, olhando por ela, cada qual representando o seu papel, em boa parte do tempo.
É, portanto, o pai, enquanto função, quem assume o papel de mostrar o mundo ao filho, retirando-o do conforto do ninho para apresentá-lo à cultura – cabe a ele estimular a liberdade, com toda a angústia que ela possa vir a carregar.
E quão importante é esse seu papel, para que se evitem filhos dependentes eternos, presos na barra da saia ou... da calça, sem ideais ou propósitos próprios.
Parece que essa função de pai, apesar dos exageros, estava mais clara nas gerações passadas, ainda que, por vezes, resvalando para a severidade ou mesmo crueldade.
O que se observa, nos dias de hoje, ao menos nas classes mais privilegiadas, são filhos com ambos os cuidadores cravados na função materna: tantos cuidados e receios que a criança cresce sufocada, pendendo para a segurança, sem vislumbrar oportunidades que a direcionem à conquista de uma independência relativa.
Nessa tirania de serem ambos boas mães, há a tentativa de impor à sociedade esse mesmo modo de funcionamento, sem regras ou compromissos, na exigência de que as escolas ou demais instituições tratem seus filhos como eles os tratam, atendendo a todos os desejos deles, na expectativa de que terão o futuro tão idealizado por tais pais: serão felizes para sempre, esquecendo-se de que “o para sempre, sempre acaba!”
Que peso para essas instituições lidarem com crianças sem limites e propósitos, que desanimam fácil frente às dificuldades do dia a dia, ou, com esses jovens da geração “Z”, que não se subordinam a nada ou ninguém, tornando-se um desafio para a área de RH das empresas.
Consequências dessa aposta em uma criação artificial, voltada à ilusão de um mundo mágico – formado exclusivamente por seres incrivelmente fantásticos, cuja única obrigação é a de serem felizes –, podem ser observadas no despreparo emocional dessas crianças e jovens em lidar com as contingências que fazem parte da vida de qualquer ser humano, motivo de verdadeiro fracasso, quando não de naufrágio literal, por falta de musculatura para suportar e se reinventar perante as adversidades.
Não se trata aqui de apregoar um saudosismo barato pela volta dos pais inacessíveis ou tiranos do passado: ali também era possível observar muitas inadequações, em decorrência de uma imposição à cultura, sem levar em conta a capacidade do sujeito de se submeter a ela, de forma não opressiva.
Mas repensar esses papéis e achar um caminho do meio, penso que este seja o grande desafio do momento: pais fazendo sua função de mostrar uma trilha, a possibilidade de um trajeto individual de liberdade a seus filhos, criando o contraponto com a segurança promovida pelas mães, esse porto seguro para onde eles sempre poderão voltar.
Que esses filhos com boa autoestima, consequência direta de se sentirem estimados por pais suficientemente bons – de um lado, emocionalmente seguros, graças ao apoio fornecido por uma boa mãe, e de outro, audazes e independentes, graças ao papel exercido por um bom pai – possam, no tempo de desabrochar, autorizar-se a içar velas e seguir adiante em busca de seus sonhos, ainda que a justa relação entre liberdade e segurança, conquista de cada um, careça de constante manejo da parte de quem faz, efetivamente, a caminhada.
Parabéns a esses pais incríveis, que souberam interpretar e exercer seu papel ímpar e que possam inspirar outros pais.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.