<span class="abre-texto">Algumas comidas são marcadas</span> pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.
Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.
A gente ficava meio de longe olhando a avó misturar os ingredientes com a colher de pau. Em seguida, ela untava a frigideira velha e derramava a mistura com cuidado, bem devagar com um movimento ritmado das mãos para que a massa se espalhasse bem fininha tomando conta suavemente da superfície untada.
E depois de assados os círculos de massa bem fina, uma outra etapa começava: ela colocava o recheio e enrolava cuidadosamente fazendo um rolo delicado. Em seguida, com todos os rolinhos arrumados na travessa de barro, era a hora da chuva moderada de açúcar e canela formando desenhos inusitados.
Os rolinhos de massa chegavam às nossas mãos ainda quentinhos e a gente ia comendo devagar pra não acabar depressa. Era uma experiência completa de sentidos: o cheiro doce da canela, o dourado que se mostrava em desenhos na massa enrolada, a textura macia e morna em nossas mãos, o sabor esperado na boca...
Talvez tenha sido essa memória guardada no baú da infância que me fez escolher esse prato pra fazer junto com a amiga que convidei para uma tarde na cozinha. Tudo bem que houve um certo aprimoramento na receita escolhida: resolvemos fazer panquecas de massa de ora-pro-nóbis e de beterraba, recheadas de carne moída.
A adição dos vegetais e a escolha de outra farinha sem glúten exigiu alguns ajustes tanto nas medidas quanto no modo de fazer. A culinária requer mais experiência que exatidão nas medidas ou sofisticação. E a nossa tarde transcorreu entre uma permanente troca de impressões regada com risos e cerveja bem gelada.
Descobrimos encantadas que fazer panquecas se assemelha em muito a viver: olhe, sinta a textura, aguarde. Não tenha medo! Deixe aquecer bem a frigideira. Sinta o gosto! Não tem problema se errar. Se não der certo a gente tenta diferente.
Ah!, a massa tá quebradiça! Precisa acrescentar algo que dê liga. Quem sabe óleo de coco! (que na vida pode ser substituído por afeto).
A segunda receita foi bolo de abóbora com coco na forma redonda com um buraco no centro (igualzinha à forma da avó), outra peça pregada pela minha criança interior que teima em mandar em mim!
Fazer bolo também nos ensina sobre a vida. Antes de tudo, é preciso aquecer o forno, ajustar a medida do calor para que o bolo cresça e fique fofinho. Quando o tempo prescrito transcorre, é necessário enfiar um palito pra saber se o bolo está pronto. Só quando o palito sai sequinho é que a missão se encerra.
Ou seja, na vida, é preciso cuidado na relação, a acolhida pode ser representada pelo calor do forno que possibilita o crescimento e o palito sequinho é a constatação feliz de que o outro está pronto para seguir sem a nossa ajuda.
E assim, entre panquecas e bolos aprendemos um pouco mais sobre nós mesmas.
Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.
O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).
O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.
<span class="abre-texto">Algumas comidas são marcadas</span> pelo afeto. Tenho memória afetiva de muitas e entre elas está a panqueca. Na minha infância, que já transcorreu há muito tempo, a mágica das rodelas de massa dourada sendo viradas em um gesto preciso era realizada pela minha avó.
Em uma época de poucas variedades alimentícias, pelo menos para uma família numerosa como a nossa e mantida por um pai operário, a panqueca recheada de doce de leite feito em casa ou apenas polvilhada com açúcar e canela, assumia ares de requinte.
A gente ficava meio de longe olhando a avó misturar os ingredientes com a colher de pau. Em seguida, ela untava a frigideira velha e derramava a mistura com cuidado, bem devagar com um movimento ritmado das mãos para que a massa se espalhasse bem fininha tomando conta suavemente da superfície untada.
E depois de assados os círculos de massa bem fina, uma outra etapa começava: ela colocava o recheio e enrolava cuidadosamente fazendo um rolo delicado. Em seguida, com todos os rolinhos arrumados na travessa de barro, era a hora da chuva moderada de açúcar e canela formando desenhos inusitados.
Os rolinhos de massa chegavam às nossas mãos ainda quentinhos e a gente ia comendo devagar pra não acabar depressa. Era uma experiência completa de sentidos: o cheiro doce da canela, o dourado que se mostrava em desenhos na massa enrolada, a textura macia e morna em nossas mãos, o sabor esperado na boca...
Talvez tenha sido essa memória guardada no baú da infância que me fez escolher esse prato pra fazer junto com a amiga que convidei para uma tarde na cozinha. Tudo bem que houve um certo aprimoramento na receita escolhida: resolvemos fazer panquecas de massa de ora-pro-nóbis e de beterraba, recheadas de carne moída.
A adição dos vegetais e a escolha de outra farinha sem glúten exigiu alguns ajustes tanto nas medidas quanto no modo de fazer. A culinária requer mais experiência que exatidão nas medidas ou sofisticação. E a nossa tarde transcorreu entre uma permanente troca de impressões regada com risos e cerveja bem gelada.
Descobrimos encantadas que fazer panquecas se assemelha em muito a viver: olhe, sinta a textura, aguarde. Não tenha medo! Deixe aquecer bem a frigideira. Sinta o gosto! Não tem problema se errar. Se não der certo a gente tenta diferente.
Ah!, a massa tá quebradiça! Precisa acrescentar algo que dê liga. Quem sabe óleo de coco! (que na vida pode ser substituído por afeto).
A segunda receita foi bolo de abóbora com coco na forma redonda com um buraco no centro (igualzinha à forma da avó), outra peça pregada pela minha criança interior que teima em mandar em mim!
Fazer bolo também nos ensina sobre a vida. Antes de tudo, é preciso aquecer o forno, ajustar a medida do calor para que o bolo cresça e fique fofinho. Quando o tempo prescrito transcorre, é necessário enfiar um palito pra saber se o bolo está pronto. Só quando o palito sai sequinho é que a missão se encerra.
Ou seja, na vida, é preciso cuidado na relação, a acolhida pode ser representada pelo calor do forno que possibilita o crescimento e o palito sequinho é a constatação feliz de que o outro está pronto para seguir sem a nossa ajuda.
E assim, entre panquecas e bolos aprendemos um pouco mais sobre nós mesmas.
Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.
O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).
O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.