Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Para reescrever o contrato com nossa criança interior

Reflexões sobre o impacto das comemorações tradicionais e a importância de cuidar da criança interna para cultivar um amor presente e incondicional.Reflexões sobre o impacto das comemorações tradicionais e a importância de cuidar da criança interna para cultivar um amor presente e incondicional.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Já faz muito tempo</span>, talvez décadas, que as comemorações dos “dias” me incomodam. Desde as celebrações de Natal até os dias dedicados a pais, mães e crianças.

Passei minha infância em uma cidade do norte de Minas Gerais, hoje uma cidade grande, antes uma pequena cidade do sertão.

Nossa família habitava a mediana do sistema social e nós convivíamos com pessoas muito ricas (na escola), pessoas muito pobres (trabalhando em nossa casa, vizinhos e nas ocupações gerais – inclusive na feira a céu aberto) e imigrantes (japoneses).

Desde sempre, por razões que hoje entendo melhor, minha capacidade de captar o entorno e me agoniar me permitia enxergar realidades absurdas, nas quais as pessoas não tinham muito o que comemorar, além de estarem vivas por mais um dia.

Fui criança em uma época em que as crianças eram pouco escutadas e muitas vezes castigadas por falar – um padrão que não respeitava as camadas socioeconômicas.

Em todas as casas ficava clara a “carga incômoda” representada pelas crianças. Nada era feito quanto a observar, até porque poucos adultos prestavam qualquer atenção aos pequenos, além daquelas operacionais de manutenção, grande parte das vezes as corretivas.

Os contrastes me assustavam. Muito. Muitas vezes eu não conseguia entender as razões e os motivos, e muito cedo fui à busca de explicações em livros – muitos deles só compreendidos mais tarde.

Em dias dedicados a celebrações específicas, eu observava as crianças; muitas não tinham pais ou nunca recebiam presentes. Aquilo me fazia sofrer. Muito.

Demorei muito a constatar que eu também era uma espécie de órfã emocional. Meus pais, embora imbuídos na tarefa de educar uma multidão de filhos, não conseguiam se aproximar das crianças o suficiente para conhecê-las.

Aquela confusão gerava tantas despesas e tantas preocupações que a sensação que tenho, mesmo agora, é de um vácuo prolongado preenchido de estratégias para escapar dos castigos.

Esse olhar de pertinho acontecia na casa dos meus avós maternos, que, por morar longe, era quase uma Katmandu na minha imaginação, um paraíso que quase o ano todo era perdido.

Chego na maturidade com um acordo comigo mesma e com minha criança interna. Dispensei com gratidão e honra minhas figuras parentais que, por não terem a capacitação para o fazer, não podem ser penalizados por não terem feito.

Assumi a missão de cuidar da minha criança interna, escutá-la de pertinho, me interessar pelos seus sentires e pensares e garantir-lhe um amor tão incondicional que não a abandonaria. Por nada. Por ninguém.

Aprendi esse amor com meus filhos, a quem posso garantir amor abrangente e total, com quem pude adquirir recursos de relacionamento que não tive, com quem pude ensaiar os passos que me trouxeram até aqui. Juntos, vivenciamos desafios gerais e particulares. Junto com os pequenos pedaços de sabedoria, um amor potente e respeitador faz companhia para o nosso conviver fora dos padrões.

Por falar em padrões, eu oficialmente os rejeito.

Hoje, há famílias funcionando lindamente sem pais ou sem mães, só com pais ou só com mães. Há comunidades familiares, algumas sobreviventes de inimagináveis abusos, que convivem sem os apegos às formalidades cartoriais dos padrões socialmente aprovados. O que de fato vale é o amor. Este não precisa de dia especial, pode ser celebrado todos os dias com invisíveis rituais.

A quem quiser olhar para a Criança interna, incluo aqui uma proposta de contrato. Como analista transacional, sou praticante de contratos. As frases abaixo podem ser utilizadas para uma leitura delicada para uma atenta ouvinte, que mora dentro da cabeça. Uma criança que aguardará este contato, posso garantir.

Uma boa experiência de preparação é fazer este contrato com filhos pequenos. Convidá-los para uma leitura a dois. Bem pertinho, quase abraçados. Acolhendo as adaptações que certamente surgirão e contando para eles que nós não sabemos tudo e que muito podemos aprender com eles. E as comemorações não mais terão dias marcados.

Contrato de vida que farei com a minha criança

Somos parte de uma história, eu e você, você e eu.

Uma história feita de pequenos passos, dados em um dia de cada vez.

Cada dia pode ser um novo recomeçar. Podemos aprender como caminhar juntos, um entendendo o passo do outro, cada um no seu jeito e ritmo.

Na nossa jornada, o meu eu parental do passado às vezes quer interferir, quer tomar conta do caminho, sem dar espaço ou voz para você.

Saiba que muitas vezes é por medo! Podemos conversar sobre um jeito só nosso, meu e seu – de seguir juntos. Deixar os certos e errados do passado no passado e definir o nosso presente adequado, possível, amável. Usar o meu eu no presente e toda a sua potência de Criança Livre e disponível para mantermos entre nós um campo protegido pelo amor.

Proponho.

Cada passo, um contrato. Na dúvida, um diálogo.  
Na tristeza, aconchego. Na raiva, respeito. No medo, colo. Na alegria, celebração!  
Seguiremos caminhando juntos, passos diferentes, ritmos diferentes, olhares diferentes, e que maravilha que sejam diferentes!  
Nosso caminho estará ampliado em maravilhamento! Unidos pelo amor inequívoco, incondicional, abrangente!  
Seguiremos construindo nossa jornada, dia a dia, passo a passo.  
Seu olhar renovando minhas possibilidades,  
meu olhar validando as suas!
Última atualização
11/8/2024 15:54
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Redação Cidade Capital
13/9/2024 11:00

O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. 

O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

Redação Cidade Capital
13/9/2024 9:53

Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.

Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.

Opinião

Para reescrever o contrato com nossa criança interior

Reflexões sobre o impacto das comemorações tradicionais e a importância de cuidar da criança interna para cultivar um amor presente e incondicional.Reflexões sobre o impacto das comemorações tradicionais e a importância de cuidar da criança interna para cultivar um amor presente e incondicional.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
11/8/2024 15:19
Maku de Almeida

Orfandades e comemorações

<span class="abre-texto">Já faz muito tempo</span>, talvez décadas, que as comemorações dos “dias” me incomodam. Desde as celebrações de Natal até os dias dedicados a pais, mães e crianças.

Passei minha infância em uma cidade do norte de Minas Gerais, hoje uma cidade grande, antes uma pequena cidade do sertão.

Nossa família habitava a mediana do sistema social e nós convivíamos com pessoas muito ricas (na escola), pessoas muito pobres (trabalhando em nossa casa, vizinhos e nas ocupações gerais – inclusive na feira a céu aberto) e imigrantes (japoneses).

Desde sempre, por razões que hoje entendo melhor, minha capacidade de captar o entorno e me agoniar me permitia enxergar realidades absurdas, nas quais as pessoas não tinham muito o que comemorar, além de estarem vivas por mais um dia.

Fui criança em uma época em que as crianças eram pouco escutadas e muitas vezes castigadas por falar – um padrão que não respeitava as camadas socioeconômicas.

Em todas as casas ficava clara a “carga incômoda” representada pelas crianças. Nada era feito quanto a observar, até porque poucos adultos prestavam qualquer atenção aos pequenos, além daquelas operacionais de manutenção, grande parte das vezes as corretivas.

Os contrastes me assustavam. Muito. Muitas vezes eu não conseguia entender as razões e os motivos, e muito cedo fui à busca de explicações em livros – muitos deles só compreendidos mais tarde.

Em dias dedicados a celebrações específicas, eu observava as crianças; muitas não tinham pais ou nunca recebiam presentes. Aquilo me fazia sofrer. Muito.

Demorei muito a constatar que eu também era uma espécie de órfã emocional. Meus pais, embora imbuídos na tarefa de educar uma multidão de filhos, não conseguiam se aproximar das crianças o suficiente para conhecê-las.

Aquela confusão gerava tantas despesas e tantas preocupações que a sensação que tenho, mesmo agora, é de um vácuo prolongado preenchido de estratégias para escapar dos castigos.

Esse olhar de pertinho acontecia na casa dos meus avós maternos, que, por morar longe, era quase uma Katmandu na minha imaginação, um paraíso que quase o ano todo era perdido.

Chego na maturidade com um acordo comigo mesma e com minha criança interna. Dispensei com gratidão e honra minhas figuras parentais que, por não terem a capacitação para o fazer, não podem ser penalizados por não terem feito.

Assumi a missão de cuidar da minha criança interna, escutá-la de pertinho, me interessar pelos seus sentires e pensares e garantir-lhe um amor tão incondicional que não a abandonaria. Por nada. Por ninguém.

Aprendi esse amor com meus filhos, a quem posso garantir amor abrangente e total, com quem pude adquirir recursos de relacionamento que não tive, com quem pude ensaiar os passos que me trouxeram até aqui. Juntos, vivenciamos desafios gerais e particulares. Junto com os pequenos pedaços de sabedoria, um amor potente e respeitador faz companhia para o nosso conviver fora dos padrões.

Por falar em padrões, eu oficialmente os rejeito.

Hoje, há famílias funcionando lindamente sem pais ou sem mães, só com pais ou só com mães. Há comunidades familiares, algumas sobreviventes de inimagináveis abusos, que convivem sem os apegos às formalidades cartoriais dos padrões socialmente aprovados. O que de fato vale é o amor. Este não precisa de dia especial, pode ser celebrado todos os dias com invisíveis rituais.

A quem quiser olhar para a Criança interna, incluo aqui uma proposta de contrato. Como analista transacional, sou praticante de contratos. As frases abaixo podem ser utilizadas para uma leitura delicada para uma atenta ouvinte, que mora dentro da cabeça. Uma criança que aguardará este contato, posso garantir.

Uma boa experiência de preparação é fazer este contrato com filhos pequenos. Convidá-los para uma leitura a dois. Bem pertinho, quase abraçados. Acolhendo as adaptações que certamente surgirão e contando para eles que nós não sabemos tudo e que muito podemos aprender com eles. E as comemorações não mais terão dias marcados.

Contrato de vida que farei com a minha criança

Somos parte de uma história, eu e você, você e eu.

Uma história feita de pequenos passos, dados em um dia de cada vez.

Cada dia pode ser um novo recomeçar. Podemos aprender como caminhar juntos, um entendendo o passo do outro, cada um no seu jeito e ritmo.

Na nossa jornada, o meu eu parental do passado às vezes quer interferir, quer tomar conta do caminho, sem dar espaço ou voz para você.

Saiba que muitas vezes é por medo! Podemos conversar sobre um jeito só nosso, meu e seu – de seguir juntos. Deixar os certos e errados do passado no passado e definir o nosso presente adequado, possível, amável. Usar o meu eu no presente e toda a sua potência de Criança Livre e disponível para mantermos entre nós um campo protegido pelo amor.

Proponho.

Cada passo, um contrato. Na dúvida, um diálogo.  
Na tristeza, aconchego. Na raiva, respeito. No medo, colo. Na alegria, celebração!  
Seguiremos caminhando juntos, passos diferentes, ritmos diferentes, olhares diferentes, e que maravilha que sejam diferentes!  
Nosso caminho estará ampliado em maravilhamento! Unidos pelo amor inequívoco, incondicional, abrangente!  
Seguiremos construindo nossa jornada, dia a dia, passo a passo.  
Seu olhar renovando minhas possibilidades,  
meu olhar validando as suas!
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
Última atualização
11/8/2024 15:54

Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22)

Redação Cidade Capital
13/9/2024 11:00

O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. 

O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.

No Brasil, 90% acredita que redes sociais não protegem crianças

Redação Cidade Capital
13/9/2024 9:53

Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.

Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.