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Opinião

Feridas do abandono encontram cura no poder do amor

Impacto do abandono parental na infância, traumas emocionais, estratégias de cura com amor e cuidado.Impacto do abandono parental na infância, traumas emocionais, estratégias de cura com amor e cuidado.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Cada abandono gera trauma e dívida</span>. O abandonado lidará com esta dor, que, não tratada, poderá acompanhá-lo pela jornada inteira da vida. Aquele que abandona adquire uma dívida, que mesmo negada, lá estará, acumulando-se em pilhas e pilhas de afeto negado, cuidado negado, segurança negada, estímulo negado, validação negada. Diferentes dimensões da inadimplência emocional.

Quero dialogar a respeito do abandono parental, mas qualquer abandono tem potencial gerador de dor e dívida. Ou seja, em qualquer época será muito duro lidar com abandono, mas nada será comparado com o dano causado a uma criança quando é abandonada pelos seus genitores ou cuidadores.

Na infância, a pessoa estrutura a base dos seus comportamentos, pensamentos e crenças. Nesta etapa, a pessoa faz seus primeiros experimentos com emoções e relacionamentos. São experiências fundamentais para um desenvolvimento pleno e essenciais para as demais etapas da vida.

Esta etapa, de certa maneira, gera padrões que serão repetidos na medida em que a criança cresce e também no quanto terá repertório para um viver pleno. Padrões e repertórios são constituídos com a mediação amorosa e cuidadosa de um adulto. Portanto, o dano causado pelo abandono é vasto e extensivo, partindo dos aspectos da sobrevivência prática e alcançando horizontes no futuro, que podem gerar inadequações, baixa autoestima, falta de confiança, desesperança.

Um complicador neste doloroso fenômeno é que a criança se responsabiliza pelo “desaparecimento” do(a) genitor(a). Traz para si a incompetência, a ausência de razões ou motivos para que aquele ser humano se mantenha na função de cuidado, estímulo e estrutura.

Muitas vezes, na idade adulta, a pessoa lida com questões de pertencimento, autoestima, confiança nas pessoas, uma busca incessante de uma perfeição idealizada e isolamento emocional.

Muitos destes sintomas podem ter sido gerados a partir do abandono. A identificação desta relação de causa e efeito é complicada pelo bloqueio defensivo da memória e a dissociação em relação a este evento doloroso. Algo que é muito comum nos relatos destas pessoas é a dificuldade efetiva de ligar passado e presente, eventos do passado gerando consequências no presente.

Curiosamente, mais uma vez, a pessoa traz para si a responsabilidade das dificuldades no presente, acreditando que tem defeitos na personalidade que precisam de “correção”, pois a obrigam a ações, relacionamentos e comportamentos inadequados. Muitas vezes, esta culpa sempre presente vem acompanhada da desesperança e da desconfiança nos relacionamentos, mesmo os mais próximos, a respeito dos quais há uma sólida crença negativa.

O abandono pode ser afetivo, material ou intelectual. Ou os três simultâneos. No abandono afetivo, são negados cuidado e responsabilidade. A criança é tratada como incômodo ou com indiferença. A expressão deste abandono se dá por atos (ausência de cuidados básicos), palavras ofensivas e abrasivas ou pela ausência de contato. A criança faz tentativas de se fazer percebida, em um espectro que vai da total inércia e submissão até a comportamentos violentos e delinquentes, passando por uma superadaptação às pessoas e circunstâncias.

Quando os responsáveis pela criança deixam de cumprir as responsabilidades de provedores, desviando para objetivos narcísicos os recursos destinados à sobrevivência da criança, há o abandono material.

A criança, muitas vezes em idade que ainda não compreende causa-consequência, se vê quase transparente e totalmente sem importância naquela comunidade familiar. Mais uma vez, comportamentos de sobrevivência se instalam, dentre outros, o medo continuado da escassez que reverbera através da jornada daquela pessoa.

O abandono intelectual se caracteriza pelo desinteresse em orientar a criança, estimular sua capacidade de pensar e de aprender, desprezando o vínculo com a escola ou qualquer outra fonte de aprendizado. Uma espécie de maldição de longo alcance, este abandono vai, aos poucos, podando as oportunidades de desenvolvimento da criança e alcança o adulto através de estratégias sofisticadas para suportar a sensação continuada de inferioridade.

Todos e cada um dos abandonos assinalam feridas emocionais profundas na criança, afetando as futuras conexões com outras pessoas através da dificuldade de estabelecimento de relacionamentos saudáveis. A tristeza desta consequência é resumida em uma frase: por não ter recebido amor e cuidado, não teve oportunidade de aprender a cuidar e amar.

O que pode mitigar a força deste trauma são: cuidados recebidos por um adulto com disponibilidade de cuidado e amor incondicional, paciência para entender os comportamentos da criança e suas dificuldades de expressar emoções, a qualificação dos pedidos de socorro, diálogo respeitoso e construção continuada de confiança.

Nos adultos que abrigam crianças feridas, cuidar desta criança é a saída. Identificar uma escuta generosa que permita entender e tomar novas decisões pode ser uma saída curativa.

Experimentar fornecer amor, cuidado e presença pode gerar a formação de repertórios de amor, cuidado e presença, restabelecendo a esperança e a confiança.

O amor pragmático e deliberado é curativo. Em qualquer momento da jornada!

Última atualização
7/7/2024 19:15
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira. 

Opinião

Feridas do abandono encontram cura no poder do amor

Impacto do abandono parental na infância, traumas emocionais, estratégias de cura com amor e cuidado.Impacto do abandono parental na infância, traumas emocionais, estratégias de cura com amor e cuidado.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
7/7/2024 19:15
Maku de Almeida

Inadimplência emocional: os impactos do abandono

<span class="abre-texto">Cada abandono gera trauma e dívida</span>. O abandonado lidará com esta dor, que, não tratada, poderá acompanhá-lo pela jornada inteira da vida. Aquele que abandona adquire uma dívida, que mesmo negada, lá estará, acumulando-se em pilhas e pilhas de afeto negado, cuidado negado, segurança negada, estímulo negado, validação negada. Diferentes dimensões da inadimplência emocional.

Quero dialogar a respeito do abandono parental, mas qualquer abandono tem potencial gerador de dor e dívida. Ou seja, em qualquer época será muito duro lidar com abandono, mas nada será comparado com o dano causado a uma criança quando é abandonada pelos seus genitores ou cuidadores.

Na infância, a pessoa estrutura a base dos seus comportamentos, pensamentos e crenças. Nesta etapa, a pessoa faz seus primeiros experimentos com emoções e relacionamentos. São experiências fundamentais para um desenvolvimento pleno e essenciais para as demais etapas da vida.

Esta etapa, de certa maneira, gera padrões que serão repetidos na medida em que a criança cresce e também no quanto terá repertório para um viver pleno. Padrões e repertórios são constituídos com a mediação amorosa e cuidadosa de um adulto. Portanto, o dano causado pelo abandono é vasto e extensivo, partindo dos aspectos da sobrevivência prática e alcançando horizontes no futuro, que podem gerar inadequações, baixa autoestima, falta de confiança, desesperança.

Um complicador neste doloroso fenômeno é que a criança se responsabiliza pelo “desaparecimento” do(a) genitor(a). Traz para si a incompetência, a ausência de razões ou motivos para que aquele ser humano se mantenha na função de cuidado, estímulo e estrutura.

Muitas vezes, na idade adulta, a pessoa lida com questões de pertencimento, autoestima, confiança nas pessoas, uma busca incessante de uma perfeição idealizada e isolamento emocional.

Muitos destes sintomas podem ter sido gerados a partir do abandono. A identificação desta relação de causa e efeito é complicada pelo bloqueio defensivo da memória e a dissociação em relação a este evento doloroso. Algo que é muito comum nos relatos destas pessoas é a dificuldade efetiva de ligar passado e presente, eventos do passado gerando consequências no presente.

Curiosamente, mais uma vez, a pessoa traz para si a responsabilidade das dificuldades no presente, acreditando que tem defeitos na personalidade que precisam de “correção”, pois a obrigam a ações, relacionamentos e comportamentos inadequados. Muitas vezes, esta culpa sempre presente vem acompanhada da desesperança e da desconfiança nos relacionamentos, mesmo os mais próximos, a respeito dos quais há uma sólida crença negativa.

O abandono pode ser afetivo, material ou intelectual. Ou os três simultâneos. No abandono afetivo, são negados cuidado e responsabilidade. A criança é tratada como incômodo ou com indiferença. A expressão deste abandono se dá por atos (ausência de cuidados básicos), palavras ofensivas e abrasivas ou pela ausência de contato. A criança faz tentativas de se fazer percebida, em um espectro que vai da total inércia e submissão até a comportamentos violentos e delinquentes, passando por uma superadaptação às pessoas e circunstâncias.

Quando os responsáveis pela criança deixam de cumprir as responsabilidades de provedores, desviando para objetivos narcísicos os recursos destinados à sobrevivência da criança, há o abandono material.

A criança, muitas vezes em idade que ainda não compreende causa-consequência, se vê quase transparente e totalmente sem importância naquela comunidade familiar. Mais uma vez, comportamentos de sobrevivência se instalam, dentre outros, o medo continuado da escassez que reverbera através da jornada daquela pessoa.

O abandono intelectual se caracteriza pelo desinteresse em orientar a criança, estimular sua capacidade de pensar e de aprender, desprezando o vínculo com a escola ou qualquer outra fonte de aprendizado. Uma espécie de maldição de longo alcance, este abandono vai, aos poucos, podando as oportunidades de desenvolvimento da criança e alcança o adulto através de estratégias sofisticadas para suportar a sensação continuada de inferioridade.

Todos e cada um dos abandonos assinalam feridas emocionais profundas na criança, afetando as futuras conexões com outras pessoas através da dificuldade de estabelecimento de relacionamentos saudáveis. A tristeza desta consequência é resumida em uma frase: por não ter recebido amor e cuidado, não teve oportunidade de aprender a cuidar e amar.

O que pode mitigar a força deste trauma são: cuidados recebidos por um adulto com disponibilidade de cuidado e amor incondicional, paciência para entender os comportamentos da criança e suas dificuldades de expressar emoções, a qualificação dos pedidos de socorro, diálogo respeitoso e construção continuada de confiança.

Nos adultos que abrigam crianças feridas, cuidar desta criança é a saída. Identificar uma escuta generosa que permita entender e tomar novas decisões pode ser uma saída curativa.

Experimentar fornecer amor, cuidado e presença pode gerar a formação de repertórios de amor, cuidado e presença, restabelecendo a esperança e a confiança.

O amor pragmático e deliberado é curativo. Em qualquer momento da jornada!

Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
Última atualização
7/7/2024 19:15

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.