Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

Falta de engajamento transforma inclusão em marketing educacional

Inclusão de autistas nas escolas precisa de acolhimento e apoio. Sem isso, vira apenas estratégia de marketing ou submissão às políticas educacionais vigentes.Inclusão de autistas nas escolas precisa de acolhimento e apoio. Sem isso, vira apenas estratégia de marketing ou submissão às políticas educacionais vigentes.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Marta Moneo

<span class="abre-texto">Nas tantas andanças pelos campos</span> da prática clínica, seguimos colhendo enredos distintos e repletos de vivências desafiadoras que, ao aportarem no consultório, exigem extremo cuidado de quem se disponibiliza à escuta. Requisitam ainda maior zelo ao chegar por intermédio de vozes maternas exaustas, cada qual em visível desorientação ante a angustiada procura por saídas ou qualquer lenitivo ao desamparo em que se acham.

Mães que adentram geralmente sozinhas a sala em que seus prantos não mais suportarão o represamento da mágoa em não serem compreendidas nos seus lamentos e em suas dores ante a impotência.  

Falo dessa legião imensa de guardiãs da história de vida de meninos e meninas com autismo – crianças provavelmente eternas, apesar da idade alcançada, cuja luz interna parece engessada dentro delas, sem trânsito livre ao externo e ao Outro para a troca – desejosas de serem percebidas por lentes solidárias capazes de se constituírem em redes de apoio. Porém, comumente observadas por olhares arrogantemente críticos, lidas de modo insensível, discriminatório e rotulador.

Torna-se premente a revisão da leitura social ainda tão preconceituosa a se replicar através de gerações, mesmo no contemporâneo, e a se expressar ante a grande leva de seres inseridos no leque do espectro autista. Revisão em relação a valores ultrapassados aos quais o indivíduo se apega por hábito ou receio em agir para modificá-los, como, por exemplo, o de ajuizar através da sua carga de verdades e diretrizes polarizadas sobre o certo ou errado, o saudável ou doentio, o previamente concebido como normal ou o que se lhe configura como anormal por sair de padrão introjetado desde cedo.  

Revisão ainda carecida de novas proposições a trocas e parcerias na seara das relações intrapsíquicas... de reinterpretação do que o humano incorpora e manifesta em sua singularidade para, em exclusivas e possíveis conexões cognitivas, construir vias de inclusão, acolhimento e salvaguarda – fundamental ao realinhamento do convívio hospitaleiro com quem se distingue no tempo de contatar, visualizar, sentir e interpretar o mundo para expressar-se.

Lembrando que, embora guardando similaridade em alguns aspectos, estamos cada um vinculado a uma personalidade e a características a nos especificarem. No entendimento e esteio desta singular diferenciação, seguimos todos atrelados à mesma e fundamental necessidade de pertencimento – o que nos direciona à autorresponsabilidade em gerar/propor negociações, encontros, vínculos à constituição dos imprescindíveis ninhos. De maneira ímpar – frisadamente ímpar – o autista e seus cuidadores demandam muito mais nessa intranquila dedicação.  

É a essa conscientização – quanto a uma nova modalidade de construção da realidade psíquica diante da realidade compartilhada e empreendida numa performance ainda não sabida – e responsabilização no tocante às inclusões que aqui me permiti discorrer e propor reflexão.  

Porque não basta só incluir! É preciso acolher e sobretudo tutelar o sujeito de desejos recluso em si mesmo, porém tentante da integração a seu tempo e jeito.

Nos seus vieses e revezes, compete-nos compreender para aprender a identificar e se juntar à particularização que o outro manifesta, como caminho de responsabilidade para oferecer o laço de um possível resgate ao abraço, à inserção do autista no plano das interações plausíveis, ainda que no doloroso Real.

Na escola, ambiente compartilhado desde a tenra infância e essencial ao convite da interatividade, a prática de dinâmicas dirigidas à busca de alta performance e embasadas na competividade acaba se tornando mais um elemento agressor e estressor àquele que se viabiliza muito singularmente e em transcurso próprio.

É preciso ressaltar a necessidade e urgência de transformações no plano didático e de socialização escolar, que tenha por propósito claro, pragmaticamente falando, a estruturação de um modelo de inserção e integração mais humanista ao portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no âmbito da remodelagem do processo ensino-aprendizagem – adequando-o ao estágio/tempo de desenvolvimento cognitivo do sujeito autista – como no terreno da sinergia – no construto da solidariedade junto aos grupos familiares e seus respectivos cuidadores..

A atuação de gestores, colaboradores e todo o efetivo escolar precisa transbordar sensibilidade no trato com aqueles que estão na órbita e no centro do autismo; com essa realidade cada vez mais presente nos corredores acadêmicos, urge o redesenhar do atual formato de inclusão – infelizmente a retroalimentar a desprezível estatística do bullying e risco à evasão escolar.

Torno a dizer: se não houver acolhida e engajamento para o cuidar, a inclusão por si só acaba se constituindo apenas em uma submissão a políticas educacionais vigentes ou a uma diferenciada estratégia de marketing à ampliação da população estudantil, em especial na rede privada. Incluir tão somente o portador do TEA não resguarda sua saúde física, psíquica e emocional se continuam a ser expostos a pressões à adequação vigente, a alienação discriminatória e ao abandono afetivo e da aprendizagem. O autista necessita de outros guardiões em sua trabalhosa trajetória pela vida.

Última atualização
19/5/2024 12:09
Marta Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); Pós-graduada em psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em psicanálise, pelo Centro de Formação em Psicanálise Clínica Illumen, com sede em São Paulo desde 2010. Outras formações acadêmicas: graduação em administração de empresas, pela Faculdade Ibero-Americana; graduação em letras, pelo Instituto Municipal de Ensino Superior (Imes) Catanduva; Leciona psicanálise, atua como analista didática e supervisora na preparação psicanalítica de alunos do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2017, com maior direcionamento ao público infanto-juvenil e adolescente.

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira. 

Opinião

Falta de engajamento transforma inclusão em marketing educacional

Inclusão de autistas nas escolas precisa de acolhimento e apoio. Sem isso, vira apenas estratégia de marketing ou submissão às políticas educacionais vigentes.Inclusão de autistas nas escolas precisa de acolhimento e apoio. Sem isso, vira apenas estratégia de marketing ou submissão às políticas educacionais vigentes.
Vinícius Sgarbe
/
Adobe Firefly
Marta Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); Pós-graduada em psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em psicanálise, pelo Centro de Formação em Psicanálise Clínica Illumen, com sede em São Paulo desde 2010. Outras formações acadêmicas: graduação em administração de empresas, pela Faculdade Ibero-Americana; graduação em letras, pelo Instituto Municipal de Ensino Superior (Imes) Catanduva; Leciona psicanálise, atua como analista didática e supervisora na preparação psicanalítica de alunos do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2017, com maior direcionamento ao público infanto-juvenil e adolescente.
19/5/2024 12:09
Marta Moneo

A inclusão em seu revés

<span class="abre-texto">Nas tantas andanças pelos campos</span> da prática clínica, seguimos colhendo enredos distintos e repletos de vivências desafiadoras que, ao aportarem no consultório, exigem extremo cuidado de quem se disponibiliza à escuta. Requisitam ainda maior zelo ao chegar por intermédio de vozes maternas exaustas, cada qual em visível desorientação ante a angustiada procura por saídas ou qualquer lenitivo ao desamparo em que se acham.

Mães que adentram geralmente sozinhas a sala em que seus prantos não mais suportarão o represamento da mágoa em não serem compreendidas nos seus lamentos e em suas dores ante a impotência.  

Falo dessa legião imensa de guardiãs da história de vida de meninos e meninas com autismo – crianças provavelmente eternas, apesar da idade alcançada, cuja luz interna parece engessada dentro delas, sem trânsito livre ao externo e ao Outro para a troca – desejosas de serem percebidas por lentes solidárias capazes de se constituírem em redes de apoio. Porém, comumente observadas por olhares arrogantemente críticos, lidas de modo insensível, discriminatório e rotulador.

Torna-se premente a revisão da leitura social ainda tão preconceituosa a se replicar através de gerações, mesmo no contemporâneo, e a se expressar ante a grande leva de seres inseridos no leque do espectro autista. Revisão em relação a valores ultrapassados aos quais o indivíduo se apega por hábito ou receio em agir para modificá-los, como, por exemplo, o de ajuizar através da sua carga de verdades e diretrizes polarizadas sobre o certo ou errado, o saudável ou doentio, o previamente concebido como normal ou o que se lhe configura como anormal por sair de padrão introjetado desde cedo.  

Revisão ainda carecida de novas proposições a trocas e parcerias na seara das relações intrapsíquicas... de reinterpretação do que o humano incorpora e manifesta em sua singularidade para, em exclusivas e possíveis conexões cognitivas, construir vias de inclusão, acolhimento e salvaguarda – fundamental ao realinhamento do convívio hospitaleiro com quem se distingue no tempo de contatar, visualizar, sentir e interpretar o mundo para expressar-se.

Lembrando que, embora guardando similaridade em alguns aspectos, estamos cada um vinculado a uma personalidade e a características a nos especificarem. No entendimento e esteio desta singular diferenciação, seguimos todos atrelados à mesma e fundamental necessidade de pertencimento – o que nos direciona à autorresponsabilidade em gerar/propor negociações, encontros, vínculos à constituição dos imprescindíveis ninhos. De maneira ímpar – frisadamente ímpar – o autista e seus cuidadores demandam muito mais nessa intranquila dedicação.  

É a essa conscientização – quanto a uma nova modalidade de construção da realidade psíquica diante da realidade compartilhada e empreendida numa performance ainda não sabida – e responsabilização no tocante às inclusões que aqui me permiti discorrer e propor reflexão.  

Porque não basta só incluir! É preciso acolher e sobretudo tutelar o sujeito de desejos recluso em si mesmo, porém tentante da integração a seu tempo e jeito.

Nos seus vieses e revezes, compete-nos compreender para aprender a identificar e se juntar à particularização que o outro manifesta, como caminho de responsabilidade para oferecer o laço de um possível resgate ao abraço, à inserção do autista no plano das interações plausíveis, ainda que no doloroso Real.

Na escola, ambiente compartilhado desde a tenra infância e essencial ao convite da interatividade, a prática de dinâmicas dirigidas à busca de alta performance e embasadas na competividade acaba se tornando mais um elemento agressor e estressor àquele que se viabiliza muito singularmente e em transcurso próprio.

É preciso ressaltar a necessidade e urgência de transformações no plano didático e de socialização escolar, que tenha por propósito claro, pragmaticamente falando, a estruturação de um modelo de inserção e integração mais humanista ao portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto no âmbito da remodelagem do processo ensino-aprendizagem – adequando-o ao estágio/tempo de desenvolvimento cognitivo do sujeito autista – como no terreno da sinergia – no construto da solidariedade junto aos grupos familiares e seus respectivos cuidadores..

A atuação de gestores, colaboradores e todo o efetivo escolar precisa transbordar sensibilidade no trato com aqueles que estão na órbita e no centro do autismo; com essa realidade cada vez mais presente nos corredores acadêmicos, urge o redesenhar do atual formato de inclusão – infelizmente a retroalimentar a desprezível estatística do bullying e risco à evasão escolar.

Torno a dizer: se não houver acolhida e engajamento para o cuidar, a inclusão por si só acaba se constituindo apenas em uma submissão a políticas educacionais vigentes ou a uma diferenciada estratégia de marketing à ampliação da população estudantil, em especial na rede privada. Incluir tão somente o portador do TEA não resguarda sua saúde física, psíquica e emocional se continuam a ser expostos a pressões à adequação vigente, a alienação discriminatória e ao abandono afetivo e da aprendizagem. O autista necessita de outros guardiões em sua trabalhosa trajetória pela vida.

Marta Moneo
Pós-graduada em A Psicanálise do Século XXI, pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap); Pós-graduada em psicanálise, pela Faculdade Álvares de Azevedo (Faatesp); Formação em psicanálise, pelo Centro de Formação em Psicanálise Clínica Illumen, com sede em São Paulo desde 2010. Outras formações acadêmicas: graduação em administração de empresas, pela Faculdade Ibero-Americana; graduação em letras, pelo Instituto Municipal de Ensino Superior (Imes) Catanduva; Leciona psicanálise, atua como analista didática e supervisora na preparação psicanalítica de alunos do Illumen. Atua na clínica psicanalítica desde 2017, com maior direcionamento ao público infanto-juvenil e adolescente.
Última atualização
19/5/2024 12:09

Brasil bate recorde na geração de energia eólica em novembro de 2024

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:21

O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).

Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.

Filme ‘Ainda estou aqui’ recebe indicação ao Globo de Ouro

Redação Cidade Capital
10/12/2024 10:02

O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman

Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.