Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

As mulheres na literatura de cordel

Mulheres pioneiras da literatura de cordel.Mulheres pioneiras da literatura de cordel.
Divulgação
/
Foto de Paola Torres
Gracon

A literatura de cordel, conhecida também por literatura popular em verso ou simplesmente cordel, é um gênero literário popular nordestino composto por narrativas satíricas, escritas e organizadas em forma de prosa em verso possuindo uma linguagem simples e de aspecto regional por meio da técnica da xilogravura. Normalmente, o cordel é impresso em formato de livretos de 8 a  16 páginas, e a partir de 24 páginas recebe o nome de romance.

A palavra cordel é uma referência a uma fina corda de mesmo nome muito utilizada para a exibição dos livretos em sua comercialização, onde tal ação ficou conhecida por seu nome popular, nomeação esta que lhe foi denominada pelo professor, escritor e pesquisador francês Raymond Cantel (1914-1986) em meados de 1970. Raymond começou a realizar viagens ao Brasil em 1959 e nestas visitas realizadas ao país, o pesquisador esteve muitas vezes em contato com diversos poetas populares, cantadores e xilógrafos, ficando apaixonado pelos poemas em versos, a ponto de escrever um livro sobre o tema: “La littérature populaire brésilienne” (1993), que no seu olhar se mostravam semelhante às tradições europeias medievais. Durante o século XV, em alguns países da Europa como por exemplo em Portugal, a Literatura de Cordel eram conhecidas por Folhas Soltas ou Folhas Volantes, na França, Littérature de Colportage e na Espanha Pliegos Sueltos, sendo que os comerciantes possuíam o costume de vender poemas em feiras de suas respectivas cidades de forma a exibi-las em cordões, assim como vemos na prática nordestina. Entretanto, as novas tecnologias como as TV´s e os rádios foram hábitos que levaram a decadência dessa prática de vendas em cordões nestes países (Mendes, 2024).

A chegada da cultura literária de cordel a América Latina se deve principalmente aos colonizadores espanhóis e portugueses potencializando também em países como o México, onde é conhecido pelo nome de Corridos, na Argentina como Hojas, e evidente, no Brasil em que a prática se estabeleceu e se firmou mais fortemente em Pernambuco. Nesse estado brasileiro nasceram inúmeros mestres do Cordel Brasileiro como J. Borges (1935), J. Barros (1935-1973); Mestre Azulão (1932-2016); José Camelo Rezende (1885-1964) e entre outros Altino Alagoano (1913-1994). Desde o ano de 2018, a Literatura de Cordel é considerada um patrimônio cultural imaterial brasileiro, visto que esta tradição atualmente pode ser encontrada por todo o território nacional mostrando assim sua relevância e importância. (Ministério da Cultura, 2018).

Altino Alagoano

Em meados do século XX na cidade de João Pessoa surgia um novo cordelista em meio aos mestres já estabelecidos da região, o poeta Altino Alagoano ou melhor dizendo Maria das Neves Baptista Pimentel, a primeira mulher a romper a hegemonia masculina presente em séculos da tradição da literatura de cordel. 

Sendo filha de Francisco das Chagas Batista (1882-1930) um dos grandes cordelistas pioneiros do Brasil que possuía sua própria tipografia e uma livraria que comercializava cordéis e livros (livros estes muitas vezes vindos da escrita erudita, aos quais o poeta era um leitor assíduo). Inspiração para Pimentel adentrar no mundo dos cordéis não lhe faltava. Apesar de viver durante o século XX, um período em que as mulheres não tinham liberdade de expressão e sua forma de pensar ainda era carregada dos preconceitos advindas da sociedade da época, visto que as exigências de comportamento e ações deveriam ser de forma pura e honrada. E muitas vezes, não possuíam o direito de estudar ou simplesmente ler a um livro (lembrando que a maior parte da população da época sofria com o grande número de analfabetismo ou analfabetismo estrutural do Brasil), Maria das Neves tinha acesso ao estudo e aos livros da biblioteca de seu pai que a incentivava as leituras o que fez com que também adquirisse seu gosto por escritos eruditas ou “literatura alta”, como ela dizia (Mendonça, 1993).

Em 1933, casou-se com Altino de Alencar Pimentel (?-1945) um de seus maiores apoiadores e admiradores sendo ele a dar a ideia inicial de sua esposa começar a produzir os cordéis sob o pseudônimo de Altino Alagoano (Altino= primeiro nome do marido e Alagoano, pois como manda a tradição é a região ao qual nasceu), pois ambos sabiam dos preconceitos da época, que provavelmente as pessoas não comprariam suas obras por se tratar de uma mulher. Assim, o pseudônimo seria uma saída para os dois que passavam por dificuldades financeiras. Suas obras de cordel mais conhecidas são “O Corcunda de Notre Dame” (1935) inspirado no romance de Victor Hugo; “O Amor Nunca Morre” (1938) inspirado no romance “Manon Lescaut” de Abade Prévost; “O Violino do Diabo ou o Valor da Honestidade” (1938) inspirado no romance “Violino do Diabo” de Victor Pérez Escrich, sendo este último o mais vendido dos três, e foram necessárias novas tiragens para a venda. A história da protagonista do último cordel citado, assemelha-se com sua autora, a personagem também quer seguir os passos do pai ou o fato de ambas terem que se passar por homens para não sofrerem os preconceitos de suas épocas servindo como uma alusão a sua própria vivência e/ou existência.

Foto de Maria das Neves Baptista Pimentel.

A primeira presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Criada em 7 de setembro de 1988, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel é uma entidade que preza por reunir os trabalhos de Literatura de Cordel populares do Nordeste. Em 2019 cria-se a Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel com um acervo com cerca de 1.606 títulos e 3.173, uma homenagem nascida do sonho de prestigiar a primeira mulher que escreveu um cordel no Brasil. A médica e poetisa Paola Torres, a mente por trás desta homenagem, inspirada por Maria também se tornou uma pioneira, a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel em 32 anos de existência da Academia. Em 2021, Paola assumiu a cadeira que pertencia ao poeta Manoel Monteiro e pertenceu ao músico e cordelista Moraes Moreira

Professora de medicina na Faculdade Federal do Ceará e na Universidade de Fortaleza, descobriu seu interesse logo na infância ao descobrir folhetos na casa de sua avó que pertenciam a sua bisavó. Esta descoberta despertou a curiosidade da pequena Paola pela cultura popular, sua mãe lhe ensinou o que era rima. Seus cordéis profissionais só vieram quando começou a lecionar em 2010, visto que os cordéis eram excelentes formas de se ensinar e informar as pessoas por meio de rimas sobre as doenças e como as tratar de forma mais leve, ajudando-os nos tratamentos. Em 2016 durante seu doutorado publicou um livro de título “Andei por aí- Narrativas de uma médica em busca da medicina” e após sua formação “Leucemia sem segredo- Uma cartilha em cordel” (defendendo a ideia de que um médico não é apenas um médico e sim humanista). (Momento literário - EBC, 2022)

Na poesia de Paola Torres:

 eu agradeço aos leitores

que vão ler esses meus versos

pois muitos são os processos

dos quais somos condutores

nós somos os detentores

de um tipo de maestria

que brota no dia a dia

veloz como o pensamento

é perfeito o casamento

da rima com a poesia

Por Ana Laura Rocha.

Última atualização
17/6/2024 11:23
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:52

Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:22

O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).

O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.

Opinião

As mulheres na literatura de cordel

Mulheres pioneiras da literatura de cordel.Mulheres pioneiras da literatura de cordel.
Divulgação
/
Foto de Paola Torres
Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
17/6/2024 11:22
Gracon

A literatura de cordel, conhecida também por literatura popular em verso ou simplesmente cordel, é um gênero literário popular nordestino composto por narrativas satíricas, escritas e organizadas em forma de prosa em verso possuindo uma linguagem simples e de aspecto regional por meio da técnica da xilogravura. Normalmente, o cordel é impresso em formato de livretos de 8 a  16 páginas, e a partir de 24 páginas recebe o nome de romance.

A palavra cordel é uma referência a uma fina corda de mesmo nome muito utilizada para a exibição dos livretos em sua comercialização, onde tal ação ficou conhecida por seu nome popular, nomeação esta que lhe foi denominada pelo professor, escritor e pesquisador francês Raymond Cantel (1914-1986) em meados de 1970. Raymond começou a realizar viagens ao Brasil em 1959 e nestas visitas realizadas ao país, o pesquisador esteve muitas vezes em contato com diversos poetas populares, cantadores e xilógrafos, ficando apaixonado pelos poemas em versos, a ponto de escrever um livro sobre o tema: “La littérature populaire brésilienne” (1993), que no seu olhar se mostravam semelhante às tradições europeias medievais. Durante o século XV, em alguns países da Europa como por exemplo em Portugal, a Literatura de Cordel eram conhecidas por Folhas Soltas ou Folhas Volantes, na França, Littérature de Colportage e na Espanha Pliegos Sueltos, sendo que os comerciantes possuíam o costume de vender poemas em feiras de suas respectivas cidades de forma a exibi-las em cordões, assim como vemos na prática nordestina. Entretanto, as novas tecnologias como as TV´s e os rádios foram hábitos que levaram a decadência dessa prática de vendas em cordões nestes países (Mendes, 2024).

A chegada da cultura literária de cordel a América Latina se deve principalmente aos colonizadores espanhóis e portugueses potencializando também em países como o México, onde é conhecido pelo nome de Corridos, na Argentina como Hojas, e evidente, no Brasil em que a prática se estabeleceu e se firmou mais fortemente em Pernambuco. Nesse estado brasileiro nasceram inúmeros mestres do Cordel Brasileiro como J. Borges (1935), J. Barros (1935-1973); Mestre Azulão (1932-2016); José Camelo Rezende (1885-1964) e entre outros Altino Alagoano (1913-1994). Desde o ano de 2018, a Literatura de Cordel é considerada um patrimônio cultural imaterial brasileiro, visto que esta tradição atualmente pode ser encontrada por todo o território nacional mostrando assim sua relevância e importância. (Ministério da Cultura, 2018).

Altino Alagoano

Em meados do século XX na cidade de João Pessoa surgia um novo cordelista em meio aos mestres já estabelecidos da região, o poeta Altino Alagoano ou melhor dizendo Maria das Neves Baptista Pimentel, a primeira mulher a romper a hegemonia masculina presente em séculos da tradição da literatura de cordel. 

Sendo filha de Francisco das Chagas Batista (1882-1930) um dos grandes cordelistas pioneiros do Brasil que possuía sua própria tipografia e uma livraria que comercializava cordéis e livros (livros estes muitas vezes vindos da escrita erudita, aos quais o poeta era um leitor assíduo). Inspiração para Pimentel adentrar no mundo dos cordéis não lhe faltava. Apesar de viver durante o século XX, um período em que as mulheres não tinham liberdade de expressão e sua forma de pensar ainda era carregada dos preconceitos advindas da sociedade da época, visto que as exigências de comportamento e ações deveriam ser de forma pura e honrada. E muitas vezes, não possuíam o direito de estudar ou simplesmente ler a um livro (lembrando que a maior parte da população da época sofria com o grande número de analfabetismo ou analfabetismo estrutural do Brasil), Maria das Neves tinha acesso ao estudo e aos livros da biblioteca de seu pai que a incentivava as leituras o que fez com que também adquirisse seu gosto por escritos eruditas ou “literatura alta”, como ela dizia (Mendonça, 1993).

Em 1933, casou-se com Altino de Alencar Pimentel (?-1945) um de seus maiores apoiadores e admiradores sendo ele a dar a ideia inicial de sua esposa começar a produzir os cordéis sob o pseudônimo de Altino Alagoano (Altino= primeiro nome do marido e Alagoano, pois como manda a tradição é a região ao qual nasceu), pois ambos sabiam dos preconceitos da época, que provavelmente as pessoas não comprariam suas obras por se tratar de uma mulher. Assim, o pseudônimo seria uma saída para os dois que passavam por dificuldades financeiras. Suas obras de cordel mais conhecidas são “O Corcunda de Notre Dame” (1935) inspirado no romance de Victor Hugo; “O Amor Nunca Morre” (1938) inspirado no romance “Manon Lescaut” de Abade Prévost; “O Violino do Diabo ou o Valor da Honestidade” (1938) inspirado no romance “Violino do Diabo” de Victor Pérez Escrich, sendo este último o mais vendido dos três, e foram necessárias novas tiragens para a venda. A história da protagonista do último cordel citado, assemelha-se com sua autora, a personagem também quer seguir os passos do pai ou o fato de ambas terem que se passar por homens para não sofrerem os preconceitos de suas épocas servindo como uma alusão a sua própria vivência e/ou existência.

Foto de Maria das Neves Baptista Pimentel.

A primeira presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel

Criada em 7 de setembro de 1988, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel é uma entidade que preza por reunir os trabalhos de Literatura de Cordel populares do Nordeste. Em 2019 cria-se a Cordelteca Maria das Neves Baptista Pimentel com um acervo com cerca de 1.606 títulos e 3.173, uma homenagem nascida do sonho de prestigiar a primeira mulher que escreveu um cordel no Brasil. A médica e poetisa Paola Torres, a mente por trás desta homenagem, inspirada por Maria também se tornou uma pioneira, a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel em 32 anos de existência da Academia. Em 2021, Paola assumiu a cadeira que pertencia ao poeta Manoel Monteiro e pertenceu ao músico e cordelista Moraes Moreira

Professora de medicina na Faculdade Federal do Ceará e na Universidade de Fortaleza, descobriu seu interesse logo na infância ao descobrir folhetos na casa de sua avó que pertenciam a sua bisavó. Esta descoberta despertou a curiosidade da pequena Paola pela cultura popular, sua mãe lhe ensinou o que era rima. Seus cordéis profissionais só vieram quando começou a lecionar em 2010, visto que os cordéis eram excelentes formas de se ensinar e informar as pessoas por meio de rimas sobre as doenças e como as tratar de forma mais leve, ajudando-os nos tratamentos. Em 2016 durante seu doutorado publicou um livro de título “Andei por aí- Narrativas de uma médica em busca da medicina” e após sua formação “Leucemia sem segredo- Uma cartilha em cordel” (defendendo a ideia de que um médico não é apenas um médico e sim humanista). (Momento literário - EBC, 2022)

Na poesia de Paola Torres:

 eu agradeço aos leitores

que vão ler esses meus versos

pois muitos são os processos

dos quais somos condutores

nós somos os detentores

de um tipo de maestria

que brota no dia a dia

veloz como o pensamento

é perfeito o casamento

da rima com a poesia

Por Ana Laura Rocha.

Gracon
Grupo de pesquisa em Gravura Contemporânea da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).
Última atualização
17/6/2024 11:23

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:52

Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:22

O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).

O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.