<span class="abre-texto">Norteada pela crença de tempos mais sensíveis</span>, cravo que a violência nunca foi, continua não sendo e jamais se fará, apesar das muitas frestas pelas quais ela possa se embrenhar, o método adequado ao alicerce dos processos de socialização e desenvolvimento educacional do sujeito de desejos.
Sem se ater à origem, toda fonte de agressão requer de todos especial atenção; e, muito mais, daqueles que se debruçam na mureta do cotidiano escolar, em função dos desajustes emocionais e psíquicos verificados em falas e condutas dos diferentes personagens do cenário acadêmico – desajustes em sua maioria nascidos nos quatro cantos da estrutura familiar e a vazarem aos canteiros da quadra escolar.
Contextualizando a questão: em pauta jornalística vinda de Matinhos, cidade litorânea do Paraná, a notícia da atitude inusitada e pouco didática por parte de uma docente em sala de aula.
Segundo a matéria, professora do primeiro ano do Ensino Fundamental 1 (aos mais nostálgicos, o reduto do pré-primário) teria colado a boca de algumas crianças com fita adesiva para que ficassem quietas durante a aula.
O fato só se tornou de domínio público por conta da descoberta do ocorrido por uma das mães que, ao pegar o filho naquele dia chuvoso, viu restos de fita grudados no braço e o indagou sobre. Cinco crianças de 6 anos foram alvos por estarem, segundo eles, conversando fora de hora dentro da classe.
Na raiz das buscas por escutas – raiz engruvinhada em universos mentais do adolescer, adultecer e envelhecer –, eis as lembranças que arrebentam as portas do dentro de cada um. Vítimas de atos autoritários e explosivamente impulsivos apresentam-se no consultório assoladas por marcas e manchas incrustradas, muitas vezes de acesso dificílimo à consciência de tão presas a pavores, iras e traumas.
Despejam, quando se permitem, réstias de luz à sombreada meninice, na qual se percebem no ontem demasiadamente vulneráveis, sem capacitação a ordenamentos internos (emocionais, psíquicos e neurológicos) e ao uso de mecanismos defensivos adequados a uma mínima compreensão sobre a agressividade alheia.
Isto porque, incapaz de atuar ao equilíbrio de sua saúde mental, a criança exposta à violência se amordaça pelo temor, assim como corre a se ocultar em esconderijos alienantes, descrendo do outro e de si mesma, culpando-se e envergonhando-se – salvo àquela em que o dispositivo da amnésia infantil tenha conseguido operar para enterrar, nas profundezas inomináveis do inconsciente, as dores cruéis abraçadas aos horrores emocionais vividos.
Não há aqui exagero! Para os pequenos, condutas agressivas se fazem incompreensíveis pela ausência de maturidade neuronal e de arcabouço cognitivo à subjetivação.
A criança não entende esse jogo de poder, transferência do desagradável irrompido no outro (por deslocamento) e sadismo presente nas entrelinhas do que lhe ameaça e/ou pune... em seu sentir, o impacto da agressão tem o tamanho único da imensidão.
Geralmente por isso, ao entrar mais adiante em outros universos mentais, a infância se aquieta, obedece e adoece; ou, para sobreviver à dor ao perder a insípida noção de autovalor, pode se identificar com o agressor e passar a fazer o que ele faz.
Embora se saiba que, no percurso evolutivo feito de tentativas e erros, pessoas ao longo da vida costumam cometer deslizes e manifestar reações insanas em situações de risco, incômodo ou provocação, parte-se do princípio de haver, no agir minimamente amadurecido de adultos, cuidadores e educadores, lições suficientemente apreendidas para se multiplicarem em atitudes mais virtuosas, como as da compreensão, acolhimento, tolerância, inclusão, empatia e discernimento – antes de ceder-se espaço a respostas altamente apaixonadas, vexatórias e emburrecidas pelo destempero das emoções.
O prejuízo nascido do assédio moral é elevado pois pode levar suas vítimas a enfurnarem a agressividade em si mesmas, trancafiando-a nos calabouços da inconsciência, de onde certamente tentará sair por meio de caminhos de descarga de energia produzidos pelo inconsciente, quais sejam: atos falhos, sintomas, lembranças encobridoras, pesadelos e chistes.
Vasculhando algumas abordagens psicanalíticas em relação a este último, pode-se dizer que tal recurso constitui uma ferramenta importante à perspectiva analítica ao tratamento de conteúdos encapsulados no território imensurável da inconsciência – conteúdos como o da violência, impulsionadores de turbulências psíquicas e articuladores de angústias.
Sob a ótica freudiana, o chiste (dito espirituoso, trocadilho, gracejo, piada, brincadeira) é fruto de uma formação do inconsciente que se verbaliza (através de um falante) a alguém (ouvinte), podendo ser aproveitado na análise para promover a reinterpretação de vivências traumáticas as quais, fixadas em dadas emoções, produzem rotulações mentais de sentido e importância a retroalimentarem o sofrimento.
Durante a análise, o duplo sentido capturado a partir de uma expressão chistosa (motivadora de riso entre falante e ouvinte) possibilitaria, talvez, novo olhar ao que causou humilhação, pavor, exasperação.
Porém, para ter esse efeito de transformar o trágico em cômico, o indivíduo precisa estar munido de capacidade subjetiva – inteligência e imaginação produtiva –, pois só a subjetividade o habilita a resgatar a vivência traumática com relativa distância emocional, com amadurecimento cognitivo para reler a experiência desagradável e protagonizar mudança sobre seus ruídos internos. No mérito em se oferecer gracejo ao trágico, tem-se a oportunidade de ruptura com a desgraça reprimida ou recalcada. Isto, no entanto, não acontece com crianças.
Elas aprendem na relação direta com os outros e levam a sério tudo que absorvem. Dos 2 aos 7 anos, quando começam a simbolizar através de imagens e palavras é para representar objetos, o que significa que elas pensam de forma objetiva, com base no que veem e escutam, procurando entender o mundo pela perspectiva externa – por isso a presença do outro é tão importante na vida dos pequenos, garantindo-lhes exemplos saudáveis no que tange a valores, atitudes e afirmações.
A exposição à violência (no caso acima, pelo amordaçamento e ridicularização) impõe no espírito infantil perigosas introjeções de falsas verdades: a de que só através da agressão alguém consegue se defender, permitindo-se a igualmente fazer uso da agressividade; a de que o exercício espontâneo da fala é algo perigoso, podendo o falante ser penalizado caso não receba permissão ou não seja ela, a fala, do agrado de outrem; e, de que o deboche se instaure como a melhor estratégia para lidar com o poder, aderindo-se a atitudes de descaso por tudo, inclusive às normas sociais.
A insensibilidade do qual se reveste qualquer ato violento pode se instalar no agredido e dificultar o advento do riso de ressignificação, que poderia seguir-se a um chiste (produção do inconsciente), favorecendo o redesenhar das feridas em cicatrizes – seja dentro das casas, no recinto das ruas, no canto reflexivo do setting.
Infelizmente, quem poderia oferecer seu melhor ao grupo de alunos em sala não conseguiu fazê-lo. É necessário que a docente trate seus desajustes e se retrate diante do próprio agir (na oportunidade do aprendizado pelo erro), reparando-se por meio da adoção de métodos ao ensino e aprendizagem mais complacentes com o não saber do outro, em especial a faixas etárias menos hábeis e mais frágeis.
Enquanto náufragos no mar individualizado dos traumas infantis, somos todos conduzidos por ondas inquietantes do inconsciente. A chance em tocar um cais seguro e acolhedor surge ao alcançarmos a barca da linguagem; ela nos guia a um lugar de conexões e de sentidos, assim como nos recolhe do vazio ao nos detectar sem forças e à deriva. Fazer submergir o direito à fala é impedir o extravaso dos conteúdos que afogam nossa paz, alegria, liberdade e evolução.
Viva essa infância sem tempo, nadando em dizeres na orla do sujeito desejante! Ele talvez não saiba nunca... mas, no requebrar das águas espumadas das palavras, sua assombrosa dor pode se aventurar em fazer-se pérola na borbulha de um chiste.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
<span class="abre-texto">Norteada pela crença de tempos mais sensíveis</span>, cravo que a violência nunca foi, continua não sendo e jamais se fará, apesar das muitas frestas pelas quais ela possa se embrenhar, o método adequado ao alicerce dos processos de socialização e desenvolvimento educacional do sujeito de desejos.
Sem se ater à origem, toda fonte de agressão requer de todos especial atenção; e, muito mais, daqueles que se debruçam na mureta do cotidiano escolar, em função dos desajustes emocionais e psíquicos verificados em falas e condutas dos diferentes personagens do cenário acadêmico – desajustes em sua maioria nascidos nos quatro cantos da estrutura familiar e a vazarem aos canteiros da quadra escolar.
Contextualizando a questão: em pauta jornalística vinda de Matinhos, cidade litorânea do Paraná, a notícia da atitude inusitada e pouco didática por parte de uma docente em sala de aula.
Segundo a matéria, professora do primeiro ano do Ensino Fundamental 1 (aos mais nostálgicos, o reduto do pré-primário) teria colado a boca de algumas crianças com fita adesiva para que ficassem quietas durante a aula.
O fato só se tornou de domínio público por conta da descoberta do ocorrido por uma das mães que, ao pegar o filho naquele dia chuvoso, viu restos de fita grudados no braço e o indagou sobre. Cinco crianças de 6 anos foram alvos por estarem, segundo eles, conversando fora de hora dentro da classe.
Na raiz das buscas por escutas – raiz engruvinhada em universos mentais do adolescer, adultecer e envelhecer –, eis as lembranças que arrebentam as portas do dentro de cada um. Vítimas de atos autoritários e explosivamente impulsivos apresentam-se no consultório assoladas por marcas e manchas incrustradas, muitas vezes de acesso dificílimo à consciência de tão presas a pavores, iras e traumas.
Despejam, quando se permitem, réstias de luz à sombreada meninice, na qual se percebem no ontem demasiadamente vulneráveis, sem capacitação a ordenamentos internos (emocionais, psíquicos e neurológicos) e ao uso de mecanismos defensivos adequados a uma mínima compreensão sobre a agressividade alheia.
Isto porque, incapaz de atuar ao equilíbrio de sua saúde mental, a criança exposta à violência se amordaça pelo temor, assim como corre a se ocultar em esconderijos alienantes, descrendo do outro e de si mesma, culpando-se e envergonhando-se – salvo àquela em que o dispositivo da amnésia infantil tenha conseguido operar para enterrar, nas profundezas inomináveis do inconsciente, as dores cruéis abraçadas aos horrores emocionais vividos.
Não há aqui exagero! Para os pequenos, condutas agressivas se fazem incompreensíveis pela ausência de maturidade neuronal e de arcabouço cognitivo à subjetivação.
A criança não entende esse jogo de poder, transferência do desagradável irrompido no outro (por deslocamento) e sadismo presente nas entrelinhas do que lhe ameaça e/ou pune... em seu sentir, o impacto da agressão tem o tamanho único da imensidão.
Geralmente por isso, ao entrar mais adiante em outros universos mentais, a infância se aquieta, obedece e adoece; ou, para sobreviver à dor ao perder a insípida noção de autovalor, pode se identificar com o agressor e passar a fazer o que ele faz.
Embora se saiba que, no percurso evolutivo feito de tentativas e erros, pessoas ao longo da vida costumam cometer deslizes e manifestar reações insanas em situações de risco, incômodo ou provocação, parte-se do princípio de haver, no agir minimamente amadurecido de adultos, cuidadores e educadores, lições suficientemente apreendidas para se multiplicarem em atitudes mais virtuosas, como as da compreensão, acolhimento, tolerância, inclusão, empatia e discernimento – antes de ceder-se espaço a respostas altamente apaixonadas, vexatórias e emburrecidas pelo destempero das emoções.
O prejuízo nascido do assédio moral é elevado pois pode levar suas vítimas a enfurnarem a agressividade em si mesmas, trancafiando-a nos calabouços da inconsciência, de onde certamente tentará sair por meio de caminhos de descarga de energia produzidos pelo inconsciente, quais sejam: atos falhos, sintomas, lembranças encobridoras, pesadelos e chistes.
Vasculhando algumas abordagens psicanalíticas em relação a este último, pode-se dizer que tal recurso constitui uma ferramenta importante à perspectiva analítica ao tratamento de conteúdos encapsulados no território imensurável da inconsciência – conteúdos como o da violência, impulsionadores de turbulências psíquicas e articuladores de angústias.
Sob a ótica freudiana, o chiste (dito espirituoso, trocadilho, gracejo, piada, brincadeira) é fruto de uma formação do inconsciente que se verbaliza (através de um falante) a alguém (ouvinte), podendo ser aproveitado na análise para promover a reinterpretação de vivências traumáticas as quais, fixadas em dadas emoções, produzem rotulações mentais de sentido e importância a retroalimentarem o sofrimento.
Durante a análise, o duplo sentido capturado a partir de uma expressão chistosa (motivadora de riso entre falante e ouvinte) possibilitaria, talvez, novo olhar ao que causou humilhação, pavor, exasperação.
Porém, para ter esse efeito de transformar o trágico em cômico, o indivíduo precisa estar munido de capacidade subjetiva – inteligência e imaginação produtiva –, pois só a subjetividade o habilita a resgatar a vivência traumática com relativa distância emocional, com amadurecimento cognitivo para reler a experiência desagradável e protagonizar mudança sobre seus ruídos internos. No mérito em se oferecer gracejo ao trágico, tem-se a oportunidade de ruptura com a desgraça reprimida ou recalcada. Isto, no entanto, não acontece com crianças.
Elas aprendem na relação direta com os outros e levam a sério tudo que absorvem. Dos 2 aos 7 anos, quando começam a simbolizar através de imagens e palavras é para representar objetos, o que significa que elas pensam de forma objetiva, com base no que veem e escutam, procurando entender o mundo pela perspectiva externa – por isso a presença do outro é tão importante na vida dos pequenos, garantindo-lhes exemplos saudáveis no que tange a valores, atitudes e afirmações.
A exposição à violência (no caso acima, pelo amordaçamento e ridicularização) impõe no espírito infantil perigosas introjeções de falsas verdades: a de que só através da agressão alguém consegue se defender, permitindo-se a igualmente fazer uso da agressividade; a de que o exercício espontâneo da fala é algo perigoso, podendo o falante ser penalizado caso não receba permissão ou não seja ela, a fala, do agrado de outrem; e, de que o deboche se instaure como a melhor estratégia para lidar com o poder, aderindo-se a atitudes de descaso por tudo, inclusive às normas sociais.
A insensibilidade do qual se reveste qualquer ato violento pode se instalar no agredido e dificultar o advento do riso de ressignificação, que poderia seguir-se a um chiste (produção do inconsciente), favorecendo o redesenhar das feridas em cicatrizes – seja dentro das casas, no recinto das ruas, no canto reflexivo do setting.
Infelizmente, quem poderia oferecer seu melhor ao grupo de alunos em sala não conseguiu fazê-lo. É necessário que a docente trate seus desajustes e se retrate diante do próprio agir (na oportunidade do aprendizado pelo erro), reparando-se por meio da adoção de métodos ao ensino e aprendizagem mais complacentes com o não saber do outro, em especial a faixas etárias menos hábeis e mais frágeis.
Enquanto náufragos no mar individualizado dos traumas infantis, somos todos conduzidos por ondas inquietantes do inconsciente. A chance em tocar um cais seguro e acolhedor surge ao alcançarmos a barca da linguagem; ela nos guia a um lugar de conexões e de sentidos, assim como nos recolhe do vazio ao nos detectar sem forças e à deriva. Fazer submergir o direito à fala é impedir o extravaso dos conteúdos que afogam nossa paz, alegria, liberdade e evolução.
Viva essa infância sem tempo, nadando em dizeres na orla do sujeito desejante! Ele talvez não saiba nunca... mas, no requebrar das águas espumadas das palavras, sua assombrosa dor pode se aventurar em fazer-se pérola na borbulha de um chiste.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.