Corrida para a Prefeitura de Curitiba

Opinião

A gente precisa de um pouco de poesia para não perder a esperança

 Permaneça sensível à crueldade, inspire mudanças com gestos atentos, preservando a luz na escuridão. Não desista, nutra a esperança. Permaneça sensível à crueldade, inspire mudanças com gestos atentos, preservando a luz na escuridão. Não desista, nutra a esperança.
Vinícius Sgarbe
/
Maku de Almeida

<span class="abre-texto">Na música de Guinga, que encontra a poesia</span> de Aldir Blanc, o catavento conversa com o girassol. E se dá quase um tango, com chegadas e partidas, com contrastes e belezas – tudo se acabando no sumidouro (onde algo desaparece) do espelho.

Meus cataventos flutuam em um céu cinza, com uma promessa de azul – sem chão, sem certezas, com uma quase agonia.

Meus cataventos são espelhos no sumidouro agônico de um Dom Quixote que teima em acreditar, teima em buscar, e segue tentando encontrar o amor.  

Por vezes, nestes dias, estive muito perto de perder a esperança. A crueldade em qualquer lugar me apavora.

A crueldade amplificada pela dor de crianças distende a minha alma até o ponto de ruptura. O brado das mães, na sua dor inimaginável, ressona dentro dos meus múltiplos brados, muitos deles calados sob o domínio de diferentes mandos.

Meus cataventos perdem o chão, escapam em voo desesperado, em busca de respostas. O que posso fazer? O que podemos fazer? Sei que nós como espécie já nos perdemos muitas vezes desde os neandertais. Já nos matamos e destruímos em nome de um sem-número de motivos ilógicos. Nossa espécie está exaurida pelas destruições que pousam nas manchetes, mas também está morrendo aos poucos em pequenos e quase banais eventos.

Fico perplexa quando em momentos tão densos e severos homens e mulheres públicas se perdem em deselegantes e grotescas mastigadas no produto do cacau. Às vezes, quase sempre, não é possível detectar nada de empatia ou consciência coletiva.

Meus cataventos voam a busca de um porto, não seguro, mas possível, onde possam pousar. Falo várias vezes para mim mesma: não desista, não desista, não desista. Bora semear gotas límpidas neste oceano complexo, difuso – no qual seres humanos são despessoalizados e maltratados, discriminados e eliminados em nome de vários deuses regidos pela cobiça indiferente.

Há crianças que seguem sem esperança – quando seguem. Há crianças que seguem sem orientação – quando seguem. Há crianças que seguem violentadas – quando seguem.

Há adultos cujas crianças internas foram caladas que seguem, autômatos, sem ver ou ouvir, sem sentir ou perceber – para sobrevivem se entorpecem.

Há adultos cujas crianças internas aprisionadas perderam completamente a conexão com o maravilhamento. Não mais se emocionam. Coisificados, coisificam as outras pessoas. Não percebendo a própria dor, ficam cegos às dores ou necessidades à volta. Crianças feridas em corpos adultos zanzam para lá e para cá, neste nosso desgastado planeta, fazendo estragos, brigando brigas de crianças em um cenário que precisamos tanto de adultos pensantes.

Não desistir, não desistir, não desistir.

Meu Don Quixote interno, lúcido, insone muitas vezes, que falar alto nas praças para acordar os adultos. Para fazê-los atender a criança interna para que vejam as crianças, para que vejam os outros adultos. Para que vejam.

Meu Dom Quixote interno, muito triste, chora. Mas se recusa a perder a esperança.

Meu catavento tem dentro o girassol de Aldir. Quem chegou até aqui: acorde sua criança interna, dê-lhe dengo e colo. Abrace uma criança em corpo de adulto, o que irá se assustar, talvez, mas quem sabe goste! Olhe nos olhos de crianças, e se perca neste espelho das luzes possíveis. Seja quem preserva e não quem apaga.

Não desistir, não desistir, não desistir.

Podemos, com pequenos gigantes gestos, nutrir a quase morta esperança. Podemos, com um olhar atento, não nos perder nos sumidouros absurdos e fantasiosos do poder e da glória. Podemos nos sentar à beira de cataventos, assentados depois dos sustos, bebendo possibilidade e cerzindo alma.

Última atualização
29/10/2023 16:16
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:52

Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:22

O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).

O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.

Opinião

A gente precisa de um pouco de poesia para não perder a esperança

 Permaneça sensível à crueldade, inspire mudanças com gestos atentos, preservando a luz na escuridão. Não desista, nutra a esperança. Permaneça sensível à crueldade, inspire mudanças com gestos atentos, preservando a luz na escuridão. Não desista, nutra a esperança.
Vinícius Sgarbe
/
Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
22/10/2023 7:25
Maku de Almeida

A gente precisa de um pouco de poesia para não perder a esperança

<span class="abre-texto">Na música de Guinga, que encontra a poesia</span> de Aldir Blanc, o catavento conversa com o girassol. E se dá quase um tango, com chegadas e partidas, com contrastes e belezas – tudo se acabando no sumidouro (onde algo desaparece) do espelho.

Meus cataventos flutuam em um céu cinza, com uma promessa de azul – sem chão, sem certezas, com uma quase agonia.

Meus cataventos são espelhos no sumidouro agônico de um Dom Quixote que teima em acreditar, teima em buscar, e segue tentando encontrar o amor.  

Por vezes, nestes dias, estive muito perto de perder a esperança. A crueldade em qualquer lugar me apavora.

A crueldade amplificada pela dor de crianças distende a minha alma até o ponto de ruptura. O brado das mães, na sua dor inimaginável, ressona dentro dos meus múltiplos brados, muitos deles calados sob o domínio de diferentes mandos.

Meus cataventos perdem o chão, escapam em voo desesperado, em busca de respostas. O que posso fazer? O que podemos fazer? Sei que nós como espécie já nos perdemos muitas vezes desde os neandertais. Já nos matamos e destruímos em nome de um sem-número de motivos ilógicos. Nossa espécie está exaurida pelas destruições que pousam nas manchetes, mas também está morrendo aos poucos em pequenos e quase banais eventos.

Fico perplexa quando em momentos tão densos e severos homens e mulheres públicas se perdem em deselegantes e grotescas mastigadas no produto do cacau. Às vezes, quase sempre, não é possível detectar nada de empatia ou consciência coletiva.

Meus cataventos voam a busca de um porto, não seguro, mas possível, onde possam pousar. Falo várias vezes para mim mesma: não desista, não desista, não desista. Bora semear gotas límpidas neste oceano complexo, difuso – no qual seres humanos são despessoalizados e maltratados, discriminados e eliminados em nome de vários deuses regidos pela cobiça indiferente.

Há crianças que seguem sem esperança – quando seguem. Há crianças que seguem sem orientação – quando seguem. Há crianças que seguem violentadas – quando seguem.

Há adultos cujas crianças internas foram caladas que seguem, autômatos, sem ver ou ouvir, sem sentir ou perceber – para sobrevivem se entorpecem.

Há adultos cujas crianças internas aprisionadas perderam completamente a conexão com o maravilhamento. Não mais se emocionam. Coisificados, coisificam as outras pessoas. Não percebendo a própria dor, ficam cegos às dores ou necessidades à volta. Crianças feridas em corpos adultos zanzam para lá e para cá, neste nosso desgastado planeta, fazendo estragos, brigando brigas de crianças em um cenário que precisamos tanto de adultos pensantes.

Não desistir, não desistir, não desistir.

Meu Don Quixote interno, lúcido, insone muitas vezes, que falar alto nas praças para acordar os adultos. Para fazê-los atender a criança interna para que vejam as crianças, para que vejam os outros adultos. Para que vejam.

Meu Dom Quixote interno, muito triste, chora. Mas se recusa a perder a esperança.

Meu catavento tem dentro o girassol de Aldir. Quem chegou até aqui: acorde sua criança interna, dê-lhe dengo e colo. Abrace uma criança em corpo de adulto, o que irá se assustar, talvez, mas quem sabe goste! Olhe nos olhos de crianças, e se perca neste espelho das luzes possíveis. Seja quem preserva e não quem apaga.

Não desistir, não desistir, não desistir.

Podemos, com pequenos gigantes gestos, nutrir a quase morta esperança. Podemos, com um olhar atento, não nos perder nos sumidouros absurdos e fantasiosos do poder e da glória. Podemos nos sentar à beira de cataventos, assentados depois dos sustos, bebendo possibilidade e cerzindo alma.

Maku de Almeida
Analista transacional. É a colunista decana deste veículo.
Última atualização
29/10/2023 16:16

Brasil tem 160 mil idosos em Instituições de Longa Permanência

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:52

Em 2022, o Brasil contava com 160.784 pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), segundo dados do último Censo divulgados nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Esse número equivale a 0,5% da população com mais de 60 anos, que totaliza 32,1 milhões de pessoas. A maior parte dos idosos em ILPI está concentrada no Sudeste, com 57,5%, região que abriga 46,6% da população idosa do país. O Sul responde por 24,8% dos idosos institucionalizados e possui 16,4% da população idosa.

Festival de Parintins torna-se patrimônio cultural brasileiro

Redação Cidade Capital
6/9/2024 10:22

O Festival Folclórico de Parintins, realizado no Amazonas, foi oficialmente reconhecido como patrimônio cultural do Brasil através do projeto de lei sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (4).

O evento ocorre anualmente, no mês de junho, na cidade de Parintins, Amazonas. Já reconhecido como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o festival celebra a tradição do boi-bumbá, em uma disputa entre dois bois: Garantido e Caprichoso.