<span class="abre-texto">A cena é linda</span>. Duas mulheres, ambas brilhando a alegria de um momento compartilhado. Há detalhes na cena que encantam. Os sorrisos, o relaxamento evidente daqueles encontros de alma. Tia e sobrinha, banhadas pelo sol, sem pretensão de nada além de celebrar a presença uma da outra. Não há retoque, nem filtro – uma cena doméstica, registrada para memória de bons e belos momentos.
Publicada, a fotografia gerou uma cascata de observações negativas a respeito da aparência da tia. Julia Roberts, na sua lindeza madura, recebeu implacáveis chicotadas virtuais. Como este ícone se atreve a envelhecer? Como pode não estar todo o tempo maquiada e pronta para o consumo ilusório das telonas?
Como, afinal, pode ser tão humana assim? E feliz! Onde já se viu? Assustada com a tsunami de ódio, Julia ficou aterrada com o efeito que demolições de autoestima como esta podem causar em pessoas mais jovens e, portanto, mais vulneráveis. Aos cinquenta anos, essa mulher especial, que é conhecida por ter consciência de si, por preservar sua família e por ser uma amiga leal, sentiu o impacto violento. E veio a público manifestar seu susto e sua preocupação.
O episódio lança luz sobre dois aspectos de nossa vida atual: as redes digitais e a necessidade de conformação a padrões pseudoestéticos de beleza e idade.
Quanto ao mundo virtual, parece-me fundamental que cada um de nós possa refletir e agir para, senão neutralizar, pelo menos mitigar um efeito tão danoso de nossa tecnologia de comunicação em nós mesmos, nas crianças e jovens que nos cercam, incluídas as crianças abrigadas em corpos adultos.
Nós humanos estamos nos escondendo da visão real de si e dos outros atrás de um sem-número de filtros. Alguns oferecidos pelos inúmeros aplicativos de convivência virtual, outros desses filtros, os mais danosos, são gerados pelo nosso quadro de referência.
Protegidos por estes escudos sobrepostos, humanos se sentem confortáveis em atirar suas setas envenenadas, sem a menor preocupação quanto aos impactos ou traumas provocados. Novos alvos são apresentados em velocidade acelerada, um após outro, desumanizados pela indiferença e distância.
É assustador pensar que a rede apenas amplifica comportamentos e não os "inventa". Algo que me ocorre com frequência é que esses ataques absurdos, descontadas as patologias, são emergência de um caldo interno com zero de apreço próprio. As agressões quase incorporam a função de uma espécie de vingança.
Esse mesmo inferno interior abduz as pessoas para um mundo onde não sofrem os impactos da passagem do tempo, onde, enfim, estão eternamente protegidas por camadas de cosméticos ou sob dimensões de intervenções. Um admirável mundo novo do século vinte e um (perdão, Aldous Huxley, nem você imaginou a que ponto chegaríamos "naturalmente").
O autor desse admirável livro imaginou uma sociedade na qual todos os seres padronizados genética e psicologicamente, divididos em castas, habitam uma sociedade sem regras, valores, respeito à individualidade ou à singularidade. Algo familiar? De assustar, não é? O livro escrito em 1932 anteviu muito do caldo cultural que nos envolve neste nosso frágil aqui-e-agora.
O passar do tempo, com seus extraordinários sinais, desde o plissado da pele até escolhas em um ritmo menos frenético, é rejeitado em alto e bom som em posts irados na rede digital.
A diferença – de tamanho, cor, textura, postura, desejos, contratos de relacionamento e outras tantas nuances – é combatida em texto e voz, na busca absurda de encaixotar as pessoas em formas "aceitáveis". Medo? Pressa? Raiva? Vingança? Tédio? Por vezes tenho desejo de perguntar: por quê?
O que leva um punhado de seres humanos a atormentarem uma pessoa com um "você é feia!" dito de diferentes formas? Qual o sentido deste destruir e seguir em frente? O que poderia ser feito alternativamente? Por que utilizar um recurso tão fantástico de comunicação e aprendizado, assim, tão fragmentado? Não, não tenho esperança de obter respostas coerentes.
Embora meu estoque de esperança seja robusto, acho que prefiro utilizá-lo como combustível para atrair a atenção de crianças, jovens e adultos para belezas outras que existem e acontecem fora do frenesi das redes (e mesmo nas redes! Há belezas por lá!).
Meu combustível eu quero aplicar para partilhar propostas e co-construir soluções que possam prover vida mais plena a quem está muito muito muito longe das formas socialmente aceitáveis. Ou para apoiar jornadas de autovalidação, autorreconhecimento, autovalorização, autoqualificação.
Se me valido, reconheço, valorizo, qualifico – saberei a importância de fazer o mesmo com meus parceiros terráqueos. Se identifico e curo a dor das diferentes mortes causadas pela exclusão, não serei arma para impedir o pertencimento de ninguém. Nem escondida atrás da distância e das camadas virtuais de proteção.
Julia Roberts é, como foi, uma linda mulher. Mantém um relacionamento leve e de intimidade com sua família e seus amigos. Segue sua jornada pessoal e profissional passo a passo. Aquelas réstias de sol que envolvem a fotografia simbolizam luz, lucidez, presença e amor. Amor que alimenta. As duas mulheres tinham um jeito especial para ocupar o tempo. Partilhar luz pode ser uma saída.
O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman.
Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.
<span class="abre-texto">A cena é linda</span>. Duas mulheres, ambas brilhando a alegria de um momento compartilhado. Há detalhes na cena que encantam. Os sorrisos, o relaxamento evidente daqueles encontros de alma. Tia e sobrinha, banhadas pelo sol, sem pretensão de nada além de celebrar a presença uma da outra. Não há retoque, nem filtro – uma cena doméstica, registrada para memória de bons e belos momentos.
Publicada, a fotografia gerou uma cascata de observações negativas a respeito da aparência da tia. Julia Roberts, na sua lindeza madura, recebeu implacáveis chicotadas virtuais. Como este ícone se atreve a envelhecer? Como pode não estar todo o tempo maquiada e pronta para o consumo ilusório das telonas?
Como, afinal, pode ser tão humana assim? E feliz! Onde já se viu? Assustada com a tsunami de ódio, Julia ficou aterrada com o efeito que demolições de autoestima como esta podem causar em pessoas mais jovens e, portanto, mais vulneráveis. Aos cinquenta anos, essa mulher especial, que é conhecida por ter consciência de si, por preservar sua família e por ser uma amiga leal, sentiu o impacto violento. E veio a público manifestar seu susto e sua preocupação.
O episódio lança luz sobre dois aspectos de nossa vida atual: as redes digitais e a necessidade de conformação a padrões pseudoestéticos de beleza e idade.
Quanto ao mundo virtual, parece-me fundamental que cada um de nós possa refletir e agir para, senão neutralizar, pelo menos mitigar um efeito tão danoso de nossa tecnologia de comunicação em nós mesmos, nas crianças e jovens que nos cercam, incluídas as crianças abrigadas em corpos adultos.
Nós humanos estamos nos escondendo da visão real de si e dos outros atrás de um sem-número de filtros. Alguns oferecidos pelos inúmeros aplicativos de convivência virtual, outros desses filtros, os mais danosos, são gerados pelo nosso quadro de referência.
Protegidos por estes escudos sobrepostos, humanos se sentem confortáveis em atirar suas setas envenenadas, sem a menor preocupação quanto aos impactos ou traumas provocados. Novos alvos são apresentados em velocidade acelerada, um após outro, desumanizados pela indiferença e distância.
É assustador pensar que a rede apenas amplifica comportamentos e não os "inventa". Algo que me ocorre com frequência é que esses ataques absurdos, descontadas as patologias, são emergência de um caldo interno com zero de apreço próprio. As agressões quase incorporam a função de uma espécie de vingança.
Esse mesmo inferno interior abduz as pessoas para um mundo onde não sofrem os impactos da passagem do tempo, onde, enfim, estão eternamente protegidas por camadas de cosméticos ou sob dimensões de intervenções. Um admirável mundo novo do século vinte e um (perdão, Aldous Huxley, nem você imaginou a que ponto chegaríamos "naturalmente").
O autor desse admirável livro imaginou uma sociedade na qual todos os seres padronizados genética e psicologicamente, divididos em castas, habitam uma sociedade sem regras, valores, respeito à individualidade ou à singularidade. Algo familiar? De assustar, não é? O livro escrito em 1932 anteviu muito do caldo cultural que nos envolve neste nosso frágil aqui-e-agora.
O passar do tempo, com seus extraordinários sinais, desde o plissado da pele até escolhas em um ritmo menos frenético, é rejeitado em alto e bom som em posts irados na rede digital.
A diferença – de tamanho, cor, textura, postura, desejos, contratos de relacionamento e outras tantas nuances – é combatida em texto e voz, na busca absurda de encaixotar as pessoas em formas "aceitáveis". Medo? Pressa? Raiva? Vingança? Tédio? Por vezes tenho desejo de perguntar: por quê?
O que leva um punhado de seres humanos a atormentarem uma pessoa com um "você é feia!" dito de diferentes formas? Qual o sentido deste destruir e seguir em frente? O que poderia ser feito alternativamente? Por que utilizar um recurso tão fantástico de comunicação e aprendizado, assim, tão fragmentado? Não, não tenho esperança de obter respostas coerentes.
Embora meu estoque de esperança seja robusto, acho que prefiro utilizá-lo como combustível para atrair a atenção de crianças, jovens e adultos para belezas outras que existem e acontecem fora do frenesi das redes (e mesmo nas redes! Há belezas por lá!).
Meu combustível eu quero aplicar para partilhar propostas e co-construir soluções que possam prover vida mais plena a quem está muito muito muito longe das formas socialmente aceitáveis. Ou para apoiar jornadas de autovalidação, autorreconhecimento, autovalorização, autoqualificação.
Se me valido, reconheço, valorizo, qualifico – saberei a importância de fazer o mesmo com meus parceiros terráqueos. Se identifico e curo a dor das diferentes mortes causadas pela exclusão, não serei arma para impedir o pertencimento de ninguém. Nem escondida atrás da distância e das camadas virtuais de proteção.
Julia Roberts é, como foi, uma linda mulher. Mantém um relacionamento leve e de intimidade com sua família e seus amigos. Segue sua jornada pessoal e profissional passo a passo. Aquelas réstias de sol que envolvem a fotografia simbolizam luz, lucidez, presença e amor. Amor que alimenta. As duas mulheres tinham um jeito especial para ocupar o tempo. Partilhar luz pode ser uma saída.
O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman.
Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.