<span class="abre-texto">Relacionamentos saudáveis parecem pouco</span> ou nada com o ideal de felicidade que aprendemos a sonhar. Não se pode negar que os finais felizes e as comédias românticas tenham influenciado nosso jeito de ver o mundo, e, em certa medida, sejam contribuições ao entretenimento e desastres à vida psicológica (pelo grau de exigência).
Mas outras influências são menos fáceis de analisar, porque mexem bem dentro da gente, lá onde raramente gostamos de enfiar o dedinho. Nossos pais encontraram um modelo único e particular de realizar seus encontros um com o outro, e com os filhos (às vezes foram desencontros). Pode ter servido a eles por um tempo, ou ainda perdura, mas está longe de ser uma regra geral.
Tem ainda o que herdamos da religião. Não raro, as exigências de nossas comunidades de prática parecem ser as mesmas do cinema. Há uma diferença abissal entre o que deveria ser e o que realmente é. É sempre pertinente lembrar, nesses casos, do professor Zeca Fernandes: “mirar no bispo para acertar o padre”, nem tão santo, nem tão profano. E nem todos, senão ninguém, vão conseguir uma vida que é somente perfeita.
Finalmente, nesta modesta lista, estão nossas comparações com o pessoal. Se este artigo tivesse um gráfico de pizza (logo abaixo), eu diria que ¾ da roda de problemas teriam relação com as comparações. Meu amigo é mais feliz, o colega de trabalho está pior, o irmão da igreja é favorito, aquela consegue porque é bonita, o outro é tão doente que tenho dó. A diversidade dessas frases tende ao infinito, e, pasmem comigo, ela é uma ressonância magnética do que conhecemos por “raiz de amargura”. O gráfico a seguir não tem nenhuma validade científica (mas, assim, nenhuma), mas desenhei meu ponto de vista, para que ele fique tão simples e claro como é um ridículo gráfico de pizza.
Há mais uma questão a ser acrescentada aqui, porque encontro nela o combustível da comparação. A indústria da felicidade, na forma de produtos midiáticos, é uma ambiguidade, como tudo que é humano. Por um lado, ouvimos e vemos discussões e aulas sobre como a felicidade pode impactar a experiência de estarmos vivos, e isso é muito bom. Por outro, essa indústria nos coloca para produzir e dar manutenção à fantasia de que estamos melhores do que podemos estar. Pegou? Essa indústria obriga você e eu a postarmos na internet de novo, de novo, de novo.
Quando comecei a escrever este texto, tinha em mente as relações que temos no trabalho. Mas acho difícil que, ao lermos a palavra “relações”, não façamos uma relação com as relações amorosas (sem contar a versão da minha mãe, para quem, quando éramos crianças, “relações” era o mesmo que sexo). O que vem a seguir serve, sim, para os casais, e para praticamente todos os outros modelos de encontros de pessoas.
Uma velha metáfora me vem à mente, a da louça na pia. Ela foi utilizada contra mim várias vezes, quando, ao repetir uma lição incompleta, dizia: “o tempo resolve”. Ora, se o tempo resolve, então deixe a louça na pia, e espere que ela se lave sozinha. É péssimo, porque tira de nós uma ilusão confortável de que levar as coisas com a barriga vai dar um jeito nos desconfortos que sentimos hoje. De todo modo, a experiência nos revela outra coisa.
Ignorar o que não está bom com o namorado, o chefe, a mãe (cuidado com essa aqui), é sentar-se na beirinha de um tobogã chamado “ciclo de desqualificação”. Só mais um empurrãozinho, e é ladeira abaixo. Desqualificar o incômodo é um incômodo por si, e tem efeito progressivo.
De repente, estamos completa e desproporcionalmente irritados com uma almofada fora do lugar, lidamos com uma birra que zomba de nós por uma contrariedade na empresa. Isso quando não temos vontade de tomar remédios para dormir até a hora de dormir. Começa com um “isso não é tão importante assim”, e termina com a gente no pronto-socorro respirando feito um cachorro com asma.
É muito bem-vindo o amadurecimento que reconhece o outro pelas diferenças que tem. É quando nos damos conta de que não existe um jeito certo de organizar a agenda, ou de lavar o carro, ou de expressar o amor com palavras. De que cada individuo é único, e o maior responsável por si mesmo (incluindo crianças). Quando ficamos adultos, podemos (finalmente) deixar o papel de alecrinzinhos dourados benevolentes da mamãe, e chamar nossos pares para discutir de igual para igual.
“Chefe, quando você não lê os relatórios que me pediu, eu me sinto subalternizado”. “Meu amor, quando você diz que vai levar o lixo e não o faz, eu me sinto enganada”. “Mãe, quando a senhora me diz, nesse tom, que eu sou responsável pelos meus atos, eu me sinto ameaçado”. “Filho, quando você anda de skate na mureta da sacada do 24º andar, a mamãe fica com medo” (tá, essa eu tô brincando).
Relações saudáveis não são as que imaginamos, mas as que construímos. Elas não se resolvem com o tempo, e demandam investimentos de tempo, palavras, e muitas medidas de humildade.
Vou escrever mais sobre isso na semana que vem.
O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman.
Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.
<span class="abre-texto">Relacionamentos saudáveis parecem pouco</span> ou nada com o ideal de felicidade que aprendemos a sonhar. Não se pode negar que os finais felizes e as comédias românticas tenham influenciado nosso jeito de ver o mundo, e, em certa medida, sejam contribuições ao entretenimento e desastres à vida psicológica (pelo grau de exigência).
Mas outras influências são menos fáceis de analisar, porque mexem bem dentro da gente, lá onde raramente gostamos de enfiar o dedinho. Nossos pais encontraram um modelo único e particular de realizar seus encontros um com o outro, e com os filhos (às vezes foram desencontros). Pode ter servido a eles por um tempo, ou ainda perdura, mas está longe de ser uma regra geral.
Tem ainda o que herdamos da religião. Não raro, as exigências de nossas comunidades de prática parecem ser as mesmas do cinema. Há uma diferença abissal entre o que deveria ser e o que realmente é. É sempre pertinente lembrar, nesses casos, do professor Zeca Fernandes: “mirar no bispo para acertar o padre”, nem tão santo, nem tão profano. E nem todos, senão ninguém, vão conseguir uma vida que é somente perfeita.
Finalmente, nesta modesta lista, estão nossas comparações com o pessoal. Se este artigo tivesse um gráfico de pizza (logo abaixo), eu diria que ¾ da roda de problemas teriam relação com as comparações. Meu amigo é mais feliz, o colega de trabalho está pior, o irmão da igreja é favorito, aquela consegue porque é bonita, o outro é tão doente que tenho dó. A diversidade dessas frases tende ao infinito, e, pasmem comigo, ela é uma ressonância magnética do que conhecemos por “raiz de amargura”. O gráfico a seguir não tem nenhuma validade científica (mas, assim, nenhuma), mas desenhei meu ponto de vista, para que ele fique tão simples e claro como é um ridículo gráfico de pizza.
Há mais uma questão a ser acrescentada aqui, porque encontro nela o combustível da comparação. A indústria da felicidade, na forma de produtos midiáticos, é uma ambiguidade, como tudo que é humano. Por um lado, ouvimos e vemos discussões e aulas sobre como a felicidade pode impactar a experiência de estarmos vivos, e isso é muito bom. Por outro, essa indústria nos coloca para produzir e dar manutenção à fantasia de que estamos melhores do que podemos estar. Pegou? Essa indústria obriga você e eu a postarmos na internet de novo, de novo, de novo.
Quando comecei a escrever este texto, tinha em mente as relações que temos no trabalho. Mas acho difícil que, ao lermos a palavra “relações”, não façamos uma relação com as relações amorosas (sem contar a versão da minha mãe, para quem, quando éramos crianças, “relações” era o mesmo que sexo). O que vem a seguir serve, sim, para os casais, e para praticamente todos os outros modelos de encontros de pessoas.
Uma velha metáfora me vem à mente, a da louça na pia. Ela foi utilizada contra mim várias vezes, quando, ao repetir uma lição incompleta, dizia: “o tempo resolve”. Ora, se o tempo resolve, então deixe a louça na pia, e espere que ela se lave sozinha. É péssimo, porque tira de nós uma ilusão confortável de que levar as coisas com a barriga vai dar um jeito nos desconfortos que sentimos hoje. De todo modo, a experiência nos revela outra coisa.
Ignorar o que não está bom com o namorado, o chefe, a mãe (cuidado com essa aqui), é sentar-se na beirinha de um tobogã chamado “ciclo de desqualificação”. Só mais um empurrãozinho, e é ladeira abaixo. Desqualificar o incômodo é um incômodo por si, e tem efeito progressivo.
De repente, estamos completa e desproporcionalmente irritados com uma almofada fora do lugar, lidamos com uma birra que zomba de nós por uma contrariedade na empresa. Isso quando não temos vontade de tomar remédios para dormir até a hora de dormir. Começa com um “isso não é tão importante assim”, e termina com a gente no pronto-socorro respirando feito um cachorro com asma.
É muito bem-vindo o amadurecimento que reconhece o outro pelas diferenças que tem. É quando nos damos conta de que não existe um jeito certo de organizar a agenda, ou de lavar o carro, ou de expressar o amor com palavras. De que cada individuo é único, e o maior responsável por si mesmo (incluindo crianças). Quando ficamos adultos, podemos (finalmente) deixar o papel de alecrinzinhos dourados benevolentes da mamãe, e chamar nossos pares para discutir de igual para igual.
“Chefe, quando você não lê os relatórios que me pediu, eu me sinto subalternizado”. “Meu amor, quando você diz que vai levar o lixo e não o faz, eu me sinto enganada”. “Mãe, quando a senhora me diz, nesse tom, que eu sou responsável pelos meus atos, eu me sinto ameaçado”. “Filho, quando você anda de skate na mureta da sacada do 24º andar, a mamãe fica com medo” (tá, essa eu tô brincando).
Relações saudáveis não são as que imaginamos, mas as que construímos. Elas não se resolvem com o tempo, e demandam investimentos de tempo, palavras, e muitas medidas de humildade.
Vou escrever mais sobre isso na semana que vem.
O Brasil atingiu dois recordes consecutivos na geração de energia eólica em novembro deste ano. No dia 3, a produção média horária alcançou 23.699 megawatts médios (MWmed). Já no dia 4, foi registrado o maior volume diário, com 18.976 MWmed. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Conforme a pasta, "os resultados destacam o avanço da energia eólica como uma fonte essencial para a matriz energética do país", confirmando o papel dessa tecnologia no fornecimento sustentável de energia.
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, foi indicado ao prêmio Globo de Ouro na categoria de melhor filme de língua estrangeira. A atriz Fernanda Torres também foi indicada a melhor atriz junto com Tilda Swinton, Kate Winslet, Angelina Jolie e Nicole Kidman.
Ainda Estou Aqui narra a trajetória da família Paiva — a mãe, Eunice, e os cinco filhos — após o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e morto pela ditadura militar brasileira.