“Me sinto uma criança, vulnerável, como se eu fosse quebrar. Meu coração está acelerado. Tento lembrar como se respira, tomo água, congelo meu corpo pra não sentir, não chorar, não reagir. Preciso parecer inteira, mesmo que não saiba como unir meus pedaços”.
Esse texto está no bloco de notas do meu celular. Eu o escrevi na recepção do hospital, na primeira vez em que fui visitar a minha mãe na UTI. Por alguma razão, naquele dia, eu tive a necessidade de registrar como me sentia. Ela se foi há 01 ano, 03 meses e 28 dias.
Recentemente, Mayle, meu cachorro, também se foi. O adoecimento e a morte animal são, em muitos aspectos, similares ao adoecimento e à morte humana. Em cada sintoma que Mayle apresentava, eu revivia a doença de minha mãe, e com ele adoecia. A dor da perda iminente se unia à dor da perda passada.
A princípio, um relato tão íntimo pode não guardar relação com os assuntos jurídicos que costumo abordar, mas para mim o Direito sempre foi algo pessoal. Quando eu escrevo sobre os direitos das minorias, estou contando a minha história, e também a história dos meus. Eu tenho casa, água, comida, roupas secas e limpas, mas quando leio as notícias sobre o Rio Grande do Sul, reconheço a impotência de ver a vida se perder diante dos olhos sem poder fazer nada.
Há quem diga que não se deva salvar os cães, os gatos, os cavalos. Deve-se apenas salvar gente. Não entendem que, para alguém que já perdeu muito, perder um animal também pode ser letal. E o quão irônico seria abandoná-los quando o desvalor pela vida não humana foi exatamente o que nos trouxe até aqui. No fim das contas, salvar animal é também salvar gente.
Há, ainda, quem busque culpa em Madonna, afinal, como podem festejar enquanto um estado inteiro está submerso? Quando se vivencia uma tragédia, é comum e humano sentir que toda a sua vida se concentra naquele evento, o que faz parecer injusto que haja vida fora dele. Como podem celebrar o Natal se estou num quarto de hospital com a minha mãe doente? E o Ano Novo? O que há para festejar?
Da mesma forma, você pode se sentar no sofá para assistir ao jogo do seu time favorito e tomar uma cerveja, enquanto em algum outro lugar do país, naquele mesmo instante, uma mãe tem o seu filho assassinado em uma operação policial.
Isso não significa que não devamos nos importar, mas que existe um grande paradoxo na vida onde uma situação muito boa e outra muito ruim dividem o mesmo espaço de tempo, sem que exista qualquer relação entre elas.
Eu poderia usar este artigo para explicar sobre responsabilidade civil do Estado, crimes ambientais e projetos de lei em matéria climática, o que certamente seria um trabalho relevante. Quando se pensa em Direito é comum a associação imediata às leis, à burocracia e à formalidade, aos livros extensos e às palavras difíceis. A técnica compõe a profissão, mas não a esgota.
Pensar o Direito também é pensar em quem o cria, como, quando e em quais circunstâncias.
Como escreveu a juíza federal Raquel Domingues, “Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras! Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!”
Hoje, eu acrescentaria que o Direito é feito de inundações, de famílias sobre os telhados de suas casas, do desabrigo, de corpos que flutuam pelas ruas da cidade.
Tardiamente, fala-se em reparações, punições e leis que, de fato, precisam ser criadas e sobretudo cumpridas. Mas o que sobra quando a água abaixa e o Direito chega?
Diferente do câncer, a tragédia ambiental foi anunciada, o diagnóstico era precoce, e sempre existiram culpados – acredite, não é a Madonna –, mas optou-se por esperar. Esperar pela perda, pelo coração descompassado, pela angústia das memórias e pela repetição da tragédia.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.
“Me sinto uma criança, vulnerável, como se eu fosse quebrar. Meu coração está acelerado. Tento lembrar como se respira, tomo água, congelo meu corpo pra não sentir, não chorar, não reagir. Preciso parecer inteira, mesmo que não saiba como unir meus pedaços”.
Esse texto está no bloco de notas do meu celular. Eu o escrevi na recepção do hospital, na primeira vez em que fui visitar a minha mãe na UTI. Por alguma razão, naquele dia, eu tive a necessidade de registrar como me sentia. Ela se foi há 01 ano, 03 meses e 28 dias.
Recentemente, Mayle, meu cachorro, também se foi. O adoecimento e a morte animal são, em muitos aspectos, similares ao adoecimento e à morte humana. Em cada sintoma que Mayle apresentava, eu revivia a doença de minha mãe, e com ele adoecia. A dor da perda iminente se unia à dor da perda passada.
A princípio, um relato tão íntimo pode não guardar relação com os assuntos jurídicos que costumo abordar, mas para mim o Direito sempre foi algo pessoal. Quando eu escrevo sobre os direitos das minorias, estou contando a minha história, e também a história dos meus. Eu tenho casa, água, comida, roupas secas e limpas, mas quando leio as notícias sobre o Rio Grande do Sul, reconheço a impotência de ver a vida se perder diante dos olhos sem poder fazer nada.
Há quem diga que não se deva salvar os cães, os gatos, os cavalos. Deve-se apenas salvar gente. Não entendem que, para alguém que já perdeu muito, perder um animal também pode ser letal. E o quão irônico seria abandoná-los quando o desvalor pela vida não humana foi exatamente o que nos trouxe até aqui. No fim das contas, salvar animal é também salvar gente.
Há, ainda, quem busque culpa em Madonna, afinal, como podem festejar enquanto um estado inteiro está submerso? Quando se vivencia uma tragédia, é comum e humano sentir que toda a sua vida se concentra naquele evento, o que faz parecer injusto que haja vida fora dele. Como podem celebrar o Natal se estou num quarto de hospital com a minha mãe doente? E o Ano Novo? O que há para festejar?
Da mesma forma, você pode se sentar no sofá para assistir ao jogo do seu time favorito e tomar uma cerveja, enquanto em algum outro lugar do país, naquele mesmo instante, uma mãe tem o seu filho assassinado em uma operação policial.
Isso não significa que não devamos nos importar, mas que existe um grande paradoxo na vida onde uma situação muito boa e outra muito ruim dividem o mesmo espaço de tempo, sem que exista qualquer relação entre elas.
Eu poderia usar este artigo para explicar sobre responsabilidade civil do Estado, crimes ambientais e projetos de lei em matéria climática, o que certamente seria um trabalho relevante. Quando se pensa em Direito é comum a associação imediata às leis, à burocracia e à formalidade, aos livros extensos e às palavras difíceis. A técnica compõe a profissão, mas não a esgota.
Pensar o Direito também é pensar em quem o cria, como, quando e em quais circunstâncias.
Como escreveu a juíza federal Raquel Domingues, “Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras! Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!”
Hoje, eu acrescentaria que o Direito é feito de inundações, de famílias sobre os telhados de suas casas, do desabrigo, de corpos que flutuam pelas ruas da cidade.
Tardiamente, fala-se em reparações, punições e leis que, de fato, precisam ser criadas e sobretudo cumpridas. Mas o que sobra quando a água abaixa e o Direito chega?
Diferente do câncer, a tragédia ambiental foi anunciada, o diagnóstico era precoce, e sempre existiram culpados – acredite, não é a Madonna –, mas optou-se por esperar. Esperar pela perda, pelo coração descompassado, pela angústia das memórias e pela repetição da tragédia.
O festival de música Rock in Rio inicia nesta sexta-feira (13) e segue até domingo (22) na Cidade do Rock, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
O evento completa 40 anos da sua primeira edição e promete uma celebração histórica. A organização espera receber mais de 700 mil pessoas, entre moradores do estado, turistas brasileiros e estrangeiros.
Pesquisa do Instituto Alana indica que nove em cada dez brasileiros acreditam que as redes sociais não protegem crianças e adolescentes. O levantamento, realizado pelo Datafolha, ouviu 2.009 pessoas, com 16 anos ou mais, de todas as classes sociais, entre os dias 12 e 18 de julho.
Segundo o estudo, divulgado nesta quinta-feira (12), 97% dos entrevistados defendem que as empresas deveriam adotar medidas para proteger crianças e adolescentes na internet, através da comprovação de identidade, melhoria no atendimento ao consumidor para denúncias, proibição de publicidade e venda para crianças, fim da reprodução automática e da rolagem infinita de vídeos e limitação de tempo de uso dos serviços.